sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

COMENTÁRIO AO III DOMINGO DO TEMPO COMUM

PER VERBUM AD DEUM

Começamos hoje a leitura contínua do Evangelho de Marcos, que seguiremos até à Quaresma (1 de março). As duas palavras deste domingo já não são chamamento e seguimento, mas sim conversão e seguimento.

A união entre a primeira leitura e o evangelho é mais de contraste do que de harmonia.

Jonas, uma figura criada para transmitir uma importante mensagem teológica, -combater o exclusivismo salvífico dos judeus depois do exílio mostrando a misericórdia do Deus de Israel para com todos os homens-, vai resmungando a Nínive, uma “imensa cidade”, imensa também pela sua “maldade” como inimiga de Israel, e lá pregoa a destruição. Jesus, homem livre depois de receber o testemunho do baptismo e superar a tentação (cfr. Mc 1,9-13), caminha a vontade pelos campos e aldeias e anuncia o “cumprimento dos tempos”. Não apregoa a destruição da “Galileia dos gentios” mas sim o “evangelho”, a boa notícia da proximidade do reinado de Deus, da instauração de uma sociedade justa e fraterna para todos.

Jonas convida para a conversão pela ameaça do castigo. Jesus proclama a fé nessa bondade restauradora das boas relações com Deus e entre os homens. Jonas provoca uma mudança de condutas, Jesus muda a perspectiva, do medo à confiança, à fé. Desta maneira a conversão recebe agora o nome de seguimento.

O chamamento é aqui um convite ao discipulado, a ir “após ele”, a não querer caminhar nem diante, nem ao lado, mas a colocar-se atrás dele. Para seguir as suas pegadas, para atender, observar, aprender da sua vida e palavra, para deixar-Lhe abrir o caminho, assinalar o rumo, marcar o ritmo.

Marcos, na reacção dos dois pares de irmãos apresenta as condições ou exigências do seguimento para quaisquer que queira ser discípulo de Jesus: resolução, disponibilidade absoluta, liberdade plena. Nada antepor ao seguimento, nem as próprias ocupações, nem as próprias tradições (abandonar o pai), nem o apego aos próprios projectos e seguranças para o futuro (concertar as redes). Deixar as redes é deixar tudo o que ata.

Com essas condições são convidados a converter-se em “pescadores de homens”, em libertadores das redes que atam aos homens, para levá-los ao discipulado de Jesus, que é liberdade para servir.

O Salmo e Paulo orientam também o existir do discípulo, do crente no evangelho. Pedimos ser instruídos nos caminhos do Senhor, nas suas veredas de misericórdia, de justiça e de paz, que constituem o seu reinado. Paulo exorta a relativizar o que somos e temos diante da presença e chegada do Senhor. Viver usando tudo mas “como se não” o usássemos. Não pôr a confiança absoluta nas realidades fugaces como se fossem realidades estáveis e duradoiras.

SALVE
P. Luis Rubio

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