terça-feira, 13 de janeiro de 2009

RIR COM OS QUE RIEM

Li, não sei onde, que o riso ajuda a digestão, relaxa os músculos, torna a pele corada, ilumina os olhos e ajuda a circulação sanguínea. O riso descontrai, estimula, vitaliza e cria um maravilhoso estado de bem-estar. Em contrapartida, – pois em tudo há sempre a face de trás – o reverso da medalha leva-nos a franzir o sobrolho, a morder o lábio e a enrugar a testa, coisa muito comum quando somos vítimas de mexericos, pressões, dissabores e mal-entendidos, desonestamente disseminados para nos fazerem a vida negra. Quem pode rir de felicidade quando as acções, palavras e atitudes são medidas e pesadas por critérios maldosos e tacanhos de quem se faz juiz e crítico? Não acontece, antes, que as relações humanas se tornam azedas? Neste mesquinho processo de dicas e tricas, ninguém se safa! Todos somos vítimas e todos somos carrascos. As duas coisas em simultâneo. Estamos impacientes enquanto não convencemos os outros de que somos vítimas... e gostamos de ser retardados em alguma vez admitir que somos carrascos. Os efeitos nefastos que o azedume provoca nas relações humanas são evidentes e consequentes.

O azedume está bem patente na impertinência, na rabugice e na falta de paciência dos que impõem a terceiros os próprios caprichos; no “feitio” intriguista e maledicente, murmurador, difamante e caluniador; nos olhares de desprezo e nos métodos inquisitoriais. Há azedume nas palavras de muita gente, ainda que sejam mais expressivas na boca de alguns políticos, de alguns sindicalistas, de muitos trabalhadores descontentes, de muitos simpatizantes deste partido ou daquele clube de futebol e de todas as pessoas ‘cheias de razão’ quando acham que foram ofendidas. Há azedume nas atitudes e nos comportamentos de tantos jovens e adultos de espírito anarca e libertino, para quem o civismo e as boas maneiras são velharias esquisitas. Há azedume nas famílias, nas escolas e nos lares quando o amor prima pela ausência e o diálogo é coisa de outras eras. Mas isto não é tudo. Para completar o ramalhete e provocar mais estragos, ao azedume junta-se o sentimento da inveja.

Toda a gente sabe o que é a inveja. Ou presume que sabe! Pois bem: mesmo que aparentemente pareça nada ter a ver com tal sentimento, há no Evangelho uma sentença extraordinária, uma vacina, que pretende exercer o papel de antídoto à inveja e que diz assim: rir com os que riem e chorar com os que choram. Teoricamente, é uma proposta triunfante e muito fácil de cumprir. Na prática, é o cabo dos trabalhos, pois só é fácil chorar com os que choram. Rir com os que riem é tremendamente difícil. Não é rir à gargalhada, fazendo coro com os néscios ou com os inconscientes. É sentir-se bem, sentir-se feliz, rir por dentro, pelo facto de se saber que os outros são felizes. Já se imaginaram felizes e contentes quando a vida sorri aos outros e a nós não? Já sentiram na pele o quão desgastante é vermos o carro e a casa e os móveis e as roupas de marca dos outros... e a nossa vida a andar para trás? Não sentem inveja? Não dá mesmo vontade de inventar uma mentirinha para fazer crer que ali anda peculato e negócio sujo? Rir com os que riem? Quem faz isso realmente? O que é costume é rir dos outros, não é rir com os outros! Como o mundo seria diferente se, ao menos durante meia hora, todas as pessoas resolvessem acabar com os azedumes e as invejas! Acabavam-se questiúnculas, guerrinhas e guerras grandes; a indiferença evaporava-se; e os conflitos de toda a ordem eram coisas para a história. Já agora: quem de nós não é invejoso?

P. Madureira da Silva

1 comentário:

  1. Depois de ler um texto assim tão prático e tão real...dá-me vontade de o «oferecer» a quem ainda não percebeu porque razão ainda não é feliz!
    Viva quem sabe rir...com os outros!!!

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