O homem ferido pela lepra constitui o ponto de união entre a primeira Leitura, do terceiro livro da Bíblia, o Levítico, no qual se põe em relevo a limpeza e santidade do povo de Deus e as condições para a relação com Ele, e o evangelho de Marcos, no final do cap. 1, em que Jesus cura um leproso.
A lepra obrigou a adoptar medidas para evitar o contágio, entre elas afastar o doente da convivência com os outros, obrigá-lo a viver em solidão, a gritar a sua própria desgraça, a vestir dum modo especial. O doente era assim um verdadeiro proscrito, alguém marginalizado.
E não só socialmente, também religiosamente. Pois a “morada fora do acampamento” excluía-o das benções do povo santo, onde se vivia a comunhão com Deus. Deste forma a marginalização social era de facto uma excomunhão. Por isso a lepra converteu-se em símbolo do pecado e o leproso na encarnação do pecador.
Marcos apresenta a Jesus “compadecido” dum leproso, experimentando uma comoção semelhante ás das entranhas maternas, característica que o Antigo Testamento apresentava como própria do Deus de Israel e do futuro Messias. Movido por essa compaixão Jesus supera as prescrições legais, deixa que o leproso se aproxime, mais ainda, “estendeu a mão, e tocou-lhe”. E a lepra deixou-o e ficou limpo, limpo da lepra, livre da marginalização, reintegrado ao povo – vai mostrar-te ao sacerdote -, liberto da excomunhão. Com isso Jesus mostra que ele, e Deus nele, não exclui a ninguém da comunhão.
O evangelista salienta a fé do leproso e a sua coragem para se aproximar de Jesus e, uma vez curado, a sua proclamação do favor recebido. O homem, reconhecido na sua dignidade e reintegrado na comunhão, mostra o seu agradecimento. Converte-se em “apóstolo”.
Em relação a Jesus Marcos salienta o começo da sua marginalização. Já não pode entrar nas cidades e nas suas sinagogas. A solidariedade com os marginalizados leva-O à marginalização. Anuncia-se já a cruz. Mas por sua vez Ele se converte no “acampamento” de todos os marginalizados, que “vinham ter com Ele de toda a parte”, seguros de encontrar n´Éle refúgio, pátria e morada.
Somos convidados, com o Salmo, a expressar a nossa confiança e alegria por ter experimentado também nós a libertação da nossa impureza radical, da nossa condição pecadora, que nos marginaliza e afasta do comunidade e de Deus. Com Paulo e por Paulo somos convidados a imitar o comportamento de Jesus, a orientar todo o nosso viver e o nosso fazer quotidiano para a glória de Deus, que consiste em que o homem viva e viva em comunhão.
P. Luis Rubio
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