segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A CRISE, FACTOR ESPIRITUAL

Ao falar de crise, refiro-me à crise económica e social que estamos a viver, sobretudo na sua consequência de desemprego, que já começou a atingir a muitos e que ainda atingirá muitos mais. Trata-se, segundo as analistas de economia, de uma crise como antes nunca tínhamos vivido e imprevisível na sua profundidade, duração e consequências.

Os padres, os futuros padres e todos os cristãos não podem viver de costas voltadas para esta situação tão angustiante para tanta gente. Não podemos fazer ouvidos moucos ao que disse o Concílio:

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração (GS 1).

A lei da incarnação de Jesus Cristo, que assumiu a condição humana com todas as consequências, menos no pecado, para a redimir – e não se redime o que não se assume -, impele-nos a todos a assumir a situação para dar o nosso contributo para a remediar.

São Paulo exortava os coríntios para aliviar a sorte dos mais pobres da comunidade de Jerusalém, com estas belíssimas e profundas palavras:

Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza…Não se trata de, ao aliviar os outros, vos fazer entrar em necessidade, mas sim que haja equidade (solidariedade) (1 Cor, 8, 9.13).

É claro que desde a perspectiva evangélica, a crise deve entrar como um factor importante na espiritualidade, tanto pessoal como comunitária, de todos nós, cristãos, e especialmente na espiritualidade dos pastores, para assumi-la e para remediá-la. Como? O que é que eu posso fazer? O que é que podemos fazer como Igreja? Estas são as questões a que pessoal e comunitariamente devemos responder.

Num plano profundo, espiritual, o primeiro que devemos e podemos fazer é nos informarmos e nos interessarmos pelo que se está a passar, interiorizar a crise, vive-la com empatia, mudar quiçá algum hábito consumista, orar individual e comunitariamente pelos mais afectados…

Em aspectos mais tangíveis e práticos, que posso, que podemos fazer? Apenas dou um par de pinceladas.

Individualmente: Não cruzarei os braços, não me escusarei pensando que o que eu faça não remediará nada. Algo posso fazer. Que posso fazer em concreto? Fá-lo-ei. Recordo a ditado De Follerau:

O que tu podes fazer é como uma gota de água perdida na imensidade do oceano. Mas isso é precisamente o que dará sentido à tua vida.

Como Igreja: mobilizemos e catalisemos as pequenas solidariedades de muitos! O pouco multiplicado muitas vezes dará algo grande, que aliviará a muitos.

P. Vicente Nieto

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