quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

GERAÇÃO ATÍPICA

Sem me referir a ninguém em especial, sinto-me rodeado por uma geração atípica em que o sentido do «colectivo», da «nação», do «grupo» se perdeu; esta geração usa a liberdade mais para contestar o poder e a autoridade do que para desenvolver ideais. Nesse espírito de contestação, a sua liberdade equivale à libertação de todas as obrigações e limitações individuais. É uma geração despreocupada, sem interesse pelo passado histórico e sem projectos para o futuro. Falta-lhe a percepção dos deveres para com a sociedade e raramente mostra vontade de sacrificar algo do presente em vista de um futuro melhor, no qual, aliás, não acredita. É uma geração reivindicadora de todos os direitos e descrente da transformação social. Geração em que os mais idosos perderam as suas convicções e, se não fosse a crise, milhões de jovens deixariam transparecer a sensação do maior sossego e tranquilidade. Geração abúlica, apática e indiferente aos costumes, tradições e valores do passado. Geração estranha que exercita despreocupadamente a sua sexualidade nas formas mais díspares, amorais, de feição egoísta... e acha que isso está muito bem! Não é uma moda intelectual; é um novo modo de viver. Não é uma aposta deste ou daquele país, desta ou daquela cultura; é o resultado da globalização. A pós-modernidade exprime este modo de ser e de viver num qualquer recanto do mundo, tanto no Japão, na China ou na Indonésia, quanto na Europa, na América do Norte ou na América Latina.

Esta nova geração anda pelo mundo à procura dos múltiplos caminhos do que chama bem-estar e felicidade. Para atingir estes fins, tudo vale, tudo experimenta, tudo lhe interessa, mas em nada se compromete. Não se preocupa em distinguir a verdade e o erro, o bem e o mal, pois tudo depende do ponto de vista, do tempo e do humor do momento. Nesta relativização, mata toda a metafísica e todo o princípio absoluto, seja na política, na ética ou na religião. Cada indivíduo, auto-colocado à margem do que acontece no mundo, comenta e faz apreciações de acordo com a sensação do momento, sempre com a reserva de que nada pode realmente ser levado a sério. Tudo acontece como se a vida e o mundo, no seu movimento normal, não tivessem sabor. Para as camadas mais jovens desta geração, as drogas são necessárias para dar algum sabor à vida que, sem elas, não teria valor. E o sexo, cada vez mais desligado do amor, é utilizado como um excitante igual a todos os excitantes, como uma droga que se usa quando se tem vontade. E mesmo que nos pareça estar a ressurgir a religião, é preciso levar em conta que se trata de uma religião sem Deus. O que se multiplica são terapias e doutrinas semi-animistas ou semi-gnósticas, que fornecem às «suas» religiões uma suposta base racional. A meta é sentirem-se bem, [«tá-se bem»], sentirem-se em paz e em união com o universo. Naturalmente, as gerações anteriores fazem-lhes resistência. Nós fazemos-lhe resistência. Esta nova geração olha-nos como órgãos de repressão, como forças de coerção e de constrangimento.

Já me disseram que sou de outra galáxia, que vivo noutro mundo, que ainda acredito na bondade natural das pessoas. E gritam-me que os valores da nova geração são muito melhores que os do meu tempo, que sou ingénuo e cota, que a rapaziada é que tem razão! Mas eu não deixo de acreditar que faz parte da geração actual um mito – desculpem chamar-lhe mito! – de que o objectivo único é ganhar muito dinheiro, trabalhar o mínimo, dedicar-se à profissão como se esta fosse tudo. No meu tempo... era comum outro objectivo: constituir família. Não é que agora se prescinda da família, mas não se lhe dá o valor que ela merece. No meu tempo, presumia-se atingir o valor mais alto não na posse nem nas ocupações, mas na relação pessoal e social em que imperavam a amizade e o amor. Nas gerações anteriores, a constituição de uma família era um valor e um ideal supremos. E os ideais políticos arrastavam multidões! Hoje, este parâmetro é quase desconsiderado. Há crise! Na família e na política. Como tenho saudades desses tempos e desses ideais!

P. Madureira da Silva

1 comentário:

  1. Quando os valores éticos, sociais e religiosos são "dispensados" na vivência diária, apetece-me perguntar, mesmo assim, se esta geração, que nos preocupa, terá conhecido a palavra «felicidade»...
    Posso interrogar-me, ainda, sobre o que nos reservará tanta «infertilidade»...

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