Esta nova geração anda pelo mundo à procura dos múltiplos caminhos do que chama bem-estar e felicidade. Para atingir estes fins, tudo vale, tudo experimenta, tudo lhe interessa, mas em nada se compromete. Não se preocupa em distinguir a verdade e o erro, o bem e o mal, pois tudo depende do ponto de vista, do tempo e do humor do momento. Nesta relativização, mata toda a metafísica e todo o princípio absoluto, seja na política, na ética ou na religião. Cada indivíduo, auto-colocado à margem do que acontece no mundo, comenta e faz apreciações de acordo com a sensação do momento, sempre com a reserva de que nada pode realmente ser levado a sério. Tudo acontece como se a vida e o mundo, no seu movimento normal, não tivessem sabor. Para as camadas mais jovens desta geração, as drogas são necessárias para dar algum sabor à vida que, sem elas, não teria valor. E o sexo, cada vez mais desligado do amor, é utilizado como um excitante igual a todos os excitantes, como uma droga que se usa quando se tem vontade. E mesmo que nos pareça estar a ressurgir a religião, é preciso levar em conta que se trata de uma religião sem Deus. O que se multiplica são terapias e doutrinas semi-animistas ou semi-gnósticas, que fornecem às «suas» religiões uma suposta base racional. A meta é sentirem-se bem, [«tá-se bem»], sentirem-se em paz e em união com o universo. Naturalmente, as gerações anteriores fazem-lhes resistência. Nós fazemos-lhe resistência. Esta nova geração olha-nos como órgãos de repressão, como forças de coerção e de constrangimento.
Já me disseram que sou de outra galáxia, que vivo noutro mundo, que ainda acredito na bondade natural das pessoas. E gritam-me que os valores da nova geração são muito melhores que os do meu tempo, que sou ingénuo e cota, que a rapaziada é que tem razão! Mas eu não deixo de acreditar que faz parte da geração actual um mito – desculpem chamar-lhe mito! – de que o objectivo único é ganhar muito dinheiro, trabalhar o mínimo, dedicar-se à profissão como se esta fosse tudo. No meu tempo... era comum outro objectivo: constituir família. Não é que agora se prescinda da família, mas não se lhe dá o valor que ela merece. No meu tempo, presumia-se atingir o valor mais alto não na posse nem nas ocupações, mas na relação pessoal e social em que imperavam a amizade e o amor. Nas gerações anteriores, a constituição de uma família era um valor e um ideal supremos. E os ideais políticos arrastavam multidões! Hoje, este parâmetro é quase desconsiderado. Há crise! Na família e na política. Como tenho saudades desses tempos e desses ideais!
P. Madureira da Silva
Quando os valores éticos, sociais e religiosos são "dispensados" na vivência diária, apetece-me perguntar, mesmo assim, se esta geração, que nos preocupa, terá conhecido a palavra «felicidade»...
ResponderEliminarPosso interrogar-me, ainda, sobre o que nos reservará tanta «infertilidade»...