quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PADRES APOSTÓLICOS

TESTEMUNHOS PRECIOSOS DA CATEQUESE SUB-APOSTÓLICA

Vamos iniciar a nossa reflexão sobre os “Padres da Igreja”, partindo da época pré-nicena, ou seja, do período que antecede a realização do Concílio de Niceia (325 d. C.), o qual constitui, como veremos, um marco importante na formulação e explicitação da doutrina cristã.

Nesta época, iremos destacar primeiramente os chamados “Padres Apostólicos” (secs. I-II); depois os “Padres Apologistas Gregos” (sec. II); os que se destacaram na “Reacção cristã anti-gnóstica” (sec II); os “Padres e Autores Latinos do sec III” e, finalmente, os “Padres e Autores Gregos do sec III”.

A denominação “Padres Apostólicos” engloba uma série heterogénea, não muito numerosa, de escritos do cristianismo mais antigo que não ficaram integrados no cânone do Novo Testamento e nem sequer se puderam colocar entre os chamados apócrifos, nem tampouco na primeira literatura apologética.

Tais escritos pertencem a géneros e estilos literários muito diversos e respondem a determinados problemas pastorais concretos e a tensões internas vividas em algumas comunidades cristãs.

A denominação é da autoria do patrólogo J. B. Cotelier, a quem se deve a primeira edição (editio princeps), em 1672, dos escritos destes Padres que, segundo ele, “floresceram nos tempos apostólicos”, dada a estreita relação e possível contacto que os mesmos tiveram com os próprios apóstolos.

Se hoje já não podemos afirmar, com absoluta certeza, que estes Padres, intitulados de “Apostólicos”, tiveram todos um contacto directo com os apóstolos, continua, no entanto, a conservar-se a supradita designação, não restando dúvidas, porém, que estes escritos constituem um vivo eco da pregação e da doutrina dos apóstolos.

Pertencem, assim, ao grupo dos “Padres Apostólicos” os seguintes escritos e autores:

- A “DIDACHÉ” ou “Doutrina dos Doze Apóstolos”, que é o documento mais importante da época sub-apostólica e a fonte mais antiga de legislação eclesiástica que possuímos. No fundo, trata-se certamente do primeiro manual catequético utilizado pelas comunidades cristãs primitivas;

- A “Epistula ad Corinthios” ou “Carta aos Coríntios”, da autoria de S. Clemente, Bispo de Roma, tem a ver com uma intervenção da igreja de Roma na crise da comunidade de Corinto, apoiando a estruturação hierárquica no princípio da sucessão apostólica;

- As “Cartas de Santo Inácio de Antioquia” são um testemunho da solidariedade entre as igrejas e a corresponsabilidade de um bispo no confronto com a heresia e o cisma;
- A “Epistula Barnabae”, falsamente atribuída ao apóstolo S. Barnabé, trata-se de um tratado sobre a interpretação cristã do Antigo Testamento dirigido a cristãos atraídos pelas doutrinas do judaísmo;

- O “Pastor de Hermas” é um livro apocalíptico com uma mensagem de penitência para a Igreja;

- A “Carta de S. Policarpo” dirigida à comunidade de Filipos, o “Martyrium Polycarpi” e “Papías, bispo de Hierápolis” (Ásia Menor) são também interessantes testemunhos da época sub-apostólica sobre a pureza e radicalidade da vivência evangélica.

O ambiente que serve de contexto à primeira reflexão teológica reveste características importantes que importa, desde já, conhecer para que melhor se torne possível compreender as intenções dos respectivos autores em questão.

Estes escritos da época sub-apostólica nasceram quase todos eles no seio da própria comunidade cristã sem olhar- ao contrário do que irá suceder com a época seguinte dos Apologistas- ao mundo pagão circundante, indiferente ou hostil. Transmitem, portanto, uma atmosfera de intimidade e familiaridade que ainda hoje, apesar da distância de mais de vinte séculos, conserva a sua frescura genuína.

A globalidade dos escritos dos “Padres Apostólicos” constitui, na verdade, um precioso testemunho da catequese sub-apostólica. Pois, como veremos, vamos encontrar na “Didaché” um cristianismo simples mas forte, nutrido da eucaristia e da obediência ao Evangelho, no qual se preceitua ao cristão, entre outras exigências, a oração diária do Pai Nosso (três vezes ao dia). S. Clemente de Roma inculcar-nos-á, através de um tom suave mas enérgico, o respeito e submissão aos ministros que presidem à Igreja de Deus. A “Epistula Barnabae”, mais exactamente do Pseudo-Barnabé, ensinar-nos-á, apesar das suas excentricidades exegéticas, a centrar toda a nossa vida em Cristo, a eterna e suma novidade diante da qual tudo o que é velho se desvanece, como a neve perante a luz do sol. O mártir Santo Inácio far-nos-á sentir, através do seu estilo inflamado, que Jesus Cristo é o centro da nossa vida e que onde se encontra o bispo, aí está a Igreja, a qual se quer sempre unida à Verdade nela e por ela proclamada. O “Pastor de Hermas” recriar-nos-á através das suas aprazíveis visões e semelhanças, admoestar-nos-á com os seus suaves mandamentos e conduzir-nos-á à esperança do perdão depois do pecado…

Tendo em conta a sequência cronológica dos mesmos, iremos, pois, iniciar a nossa reflexão pelo mais antigo de todos- a “Didaché”.

Drª. Teresa Pereira

1 comentário:

  1. olá eu tbm tenho um blog e nele o desejo de Deus em meu coração é difundir um pouco da palavra de Deus contida na Tradição... creio em Deus que poderemos trocar informações e ser colaboradores um do outro, Graça e Paz no Verbo, Rodolfo Soares Barbosa

    baristarj@hotmail.com

    www.pdeposito.blogspot.com

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