segunda-feira, 9 de março de 2009

AFINAL, SOMOS FELIZES OU PESSIMISTAS?

Na revista “Visão”, Nº 834 – 26 de Fevereiro a 4 de Março 2009, e no “Diário de Notícias, de 27 de Fevereiro de 2009, aparecem, com grande destaque, contraditórios manchetes sobre a felicidade ou infelicidade dos portugueses:

· Visão: “Afinal [os portugueses] somos felizes” (na capa e na pág. 76); 73,5% dos inqueridos consideram-se felizes (pág. 76); nós, portugueses, super contentes (pág.80).

· Diário de Notícias: “Pessimismo nacional bate recorde de 22 anos” E prossegue: “Fevereiro foi o mês mais negro dos últimos 22 anos para os portugueses. A confiança dos consumidores, empreiteiros, industriais e lojistas atingiu o ponto mais baixo… Um inquérito a dois mil portugueses, feito pelo Instituto Nacional de Estatística, demonstra que as perspectivas financeira das famílias para o próximo ano também são más” (na capa).

Como é possível que os mesmos sujeitos – os portugueses –, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, possam ser e não ser? Isto seria como quadrar o círculo ou pretender que o princípio de contradição não opere em Portugal.
Como explicar as divergências de pontos de vista? Analisemos três possíveis hipóteses explicativas:

· A hipótese da bem-aventurança evangélica: Será que a felicidade que proclama a Visão terá com fundamento a pobreza que denuncia o Diário de Notícias, para se realizar assim a palavra de Jesus: Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus? (Lc 6, 20). Não parece tão provável, porque a felicidade para Jesus não assenta na pobreza, mas na posse do Reino de Deus, que com toda certeza não está na mente dos redactores das duas publicações. Descartada esta hipótese.

· A hipótese dos termos equívocos: A segunda hipótese explicativa diz que em ambas as publicações se emprega o mesmo termo ‘felicidade’, mas com significações totalmente diversas. Será, por acaso, que a revista Visão fala duma felicidade “espiritual” e o Diário de Notícias duma felicidade “material”? Certamente que este se refere a uma infelicidade física, material, proveniente do desemprego e da falência de tantas empresas, com as correspondentes consequências morais, sociais e psicológicas. Entende o jornal que sem meios materiais para cobrir as necessidades básicas não é possível sonhar com nenhum tipo de felicidade. De que felicidade fala a Visão? Refere-se mais ao sentimento de bem-estar fruto de relações harmónicas no interior da família e com os amigos. Algo muito etéreo e impossível sem a base material de que fala o Diário de Notícias. Devemos convir, pois, que não pode haver muita divergência no entendimento do termo em ambas as publicações.

· A hipótese da ignorância crassa e exibida: Esta hipótese certamente não é sustentável, porque as duas publicações “sabem”, e quando ignoram são conscientes da sua ignorância, pelo que não se expõem a exibi-la.

· A hipótese política: Os dois órgãos de informação servem interesses divergentes, servem dois senhores opostos entre si. Não serão, por acaso, os senhores da política? A um lhe interessaria mais que neste momento os portugueses estivessem insatisfeitos, com medo e descontentes, como havia vinte anos não estavam; a outro, lhe interessaria mais o contrário: que estivessem muito felizes, como havia vinte anos não estavam.

Lição da fábula: Quem tenha olhos para ver, ouvidos para ouvir e cabeça para pensar, que veja, ouça e entenda.

P. Vicente Nieto

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