segunda-feira, 2 de março de 2009

BEM-VINDA A MISCIGENAÇÃO! (II)

Há uma miscigenação genética e outra simplesmente cultural (que inclui a língua, a religião, os costumes e a mentalidade). A genética – fruto do cruzamento de raças - implica sempre a cultural, mas não ao invés. Nesta partilha e na da semana passada com os nossos leitores, estou-me a referir principalmente à miscigenação genética.

Porém, tive uma experiência relativa à miscigenação exclusivamente cultural que quero relatar, por ilustrativa. Na minha passagem de dois anos por Munich, na Alemanha, fui incumbido, na Missão Católica Espanhola, do grupo de jovens, nascidos lá, filhos de emigrantes espanhóis. Entre eles era habitual o queixume de não serem nem alemães nem espanhóis, e faziam própria a letra duma música que na altura se cantava na Espanha: “Nem sou daqui, nem sou de lá.” Eu, que andava a batalhar com a língua alemã, e com os costumes, e com a mentalidade, e com mais outras coisas, invejava aqueles jovens que, pelas suas circunstâncias familiares e históricas, tinham assimilado de forma natural e quase espontânea, as duas línguas e culturas. Que riqueza! O que para eles era desgraça, eu apreciava como graça e vantagem. Assim intentei transmiti-lo para eles.

Eu, espanhol, radicado em Évora, sinto-me feliz da minha circunstância vital plural. Sou um espanhol em Portugal e um português na Espanha: ibérico, peninsular. O que me facilita lançar pontes; isto é, ser mais eu mesmo, identificar-me mais com a minha missão de “pontífice e mediador”.

A miscigenação cultural e racial dá-se pelas uniões de casais mistos e o seu fruto natural são os filhos. Nem estes matrimónios resultam bem automaticamente nem o seu resultado nos filhos é sempre positivo. Quando o fracasso se produz, este é mais estrepitoso que nos casais e nos filhos monoculturais. Mas quando estes matrimónios resultam bem, o seu fruto nos filhos pode ser esplêndido.

São aconselháveis os matrimónios multi-raciais e multi-culturais? Eu diria que não como critério, porque o matrimónio em si mesmo já entranha grandes riscos, e não dá para andar a acrescentar-lhe mais riscos que não sejam necessários. Mas se surgem noivados deste tipo pelas circunstâncias normais da vida, pode-se avançar para o matrimónio, contanto se realize um cuidadoso discernimento dos prós e dos contras. Quando a disparidade cultural e religiosa é muito grande, tais matrimónios são desaconselháveis em princípio. Este é, para mim também - e me somo ao ponto de vista dos “cardeais” - o caso das uniões entre não muçulmanos e muçulmanos, seja ou não cristã a parte não muçulmana.

O nosso mundo globalizado cada vez mais será um mundo ‘miscigenado’. Nem fugir à miscigenação, porque é má ou porque acarreta dificuldades e problemas; nem procurá-la compulsivamente, porque é o melhor. Quando acontecer pelas circunstâncias da vida, seja bem-vinda. Não é uma desgraça; é uma riqueza para todos!


P. Vicente Nieto

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