segunda-feira, 30 de março de 2009

CARINHOSO ELOGIO DA MULHER AFRICANA

Alegrou-me muito que o Papa Bento XVI, na sua viagem a Angola, em Luanda, no domingo, 22 de Março passado, tivesse um encontro especial com os “Movimentos eclesiais mobilizados para a promoção da mulher angolana”. Quero pensar que, na mulher angolana, o Papa encontrava-se com todas as mulheres de África. Neste encontro, Bento XVI tinha “uma saudação carregada de estima e de esperança para estas mulheres, a quem Deus confiou as fontes da vida”. Partilho estes sentimentos.

A minha admiração – cheia de carinho, de esperança e também de tristeza, e até de raiva – não exclui qualquer mulher africana. Mas como a minha relação foi, durante oito anos, com as angolanas, é à mulher negra africana que me refiro principalmente.

Tenho gravado na minha memória e no meu coração as seguintes estampas ou cenas relativas à mulheres. São simples, mas enormemente significativas:

· A mulher realizando trabalhos domésticos, agrícolas ou de qualquer outra índole – por duros que fossem – com o bebé ao colo.

· As mulheres, indo ou regressando do trabalho quotidiano, pelos caminhos ou estradas, descalças, carregando ao colo o bebé e na cabeça uma grande trouxa, precedidas pelo homem, com o machado numa mão e com a outra segurando o rádio, perto do ouvido, para escutar ele sozinho.

· Mulheres e meninas, também na capital Luanda, em longas fileiras, ladeadas de baldes, para captar água, que depois era transportada com muita penosidade, ficando as transportadoras molhadas e até banhadas pela água e pelo suor.

· “As legionárias de Maria”, sempre disponíveis e próximas à igreja e aos padres, para servir, no que fosse: escovar, arrumar, lavar, canta dançar, com total generosidade e alegria.

· A jovialidade, o vitalismo e a alegria daquelas mulheres, no meio de tantas penalidades. Que maravilha, que milagre!

· Tantas mulheres e jovens, mães de um ou de vários filhos, sem maridos ou sendo segundas ou terceiras esposas de homens que normalmente se desentendem dos seus filhos. Os homens fazem filhos, mas não são maridos nem pais. A mulher é pai-mãe. Para uma criança, a referência masculina mais certa (também paterna, na ausência de pai físico) é o tio materno. Quantas reflexões, até de corte psicanalítico, se poderiam fazer desta realidade; quantas consequências…

Então os homens, que se passa com eles? Não pretendo denegri-los, porque não estou a alegar contra eles, mas a elogiar carinhosamente as mulheres africanas. Porém, faço minhas as palavras do Papa: “A todos exorto a tomar efectiva consciência das condições desfavoráveis a que estiveram – e continuam a estar – sujeitas muitas mulheres, examinando em que medida a conduta e as atitudes dos homens, às vezes falhos de sensibilidade ou responsabilidade, possam ser a causa daquelas”.

“África será salva pelas mulheres”, pude ler há pouco numa revista missionária. Sem comentário, da minha parte… Também aprendi a admirar a beleza negra. Desde que voltei de África, a mulher branca parece-me branca de mais.

Reconheço que me movem a escrever o que acabo de escrever mais as “razões do coração” que as ideias da razão. O meu coração está lotado de nomes de mulheres africanas: bebés de colo, crianças, meninas, garotas, moças, mulheres e velhotas.

Eis aqui a minha pobre e pequena homenagem à mulher africana; mas não por pequena e pobre menos rendida e carinhosa.

P. Vicente Nieto

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