sexta-feira, 13 de março de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO III DOMINGO DA QUARESMA

PER VERBUM AD DEUM

A Liturgia coloca-nos neste terceiro domingo de quaresma no coração da religiosidade judia, a lei, com o decálogo, e o culto, com a expulsão dos vendedores do templo. A Lei e o Templo, dados para expressão duma relação autêntica com o Senhor, tinham-se corrompido e tinham degenerado em legalismo e em interesses económicos e comerciais. Em confronto com eles Jesus revela novos aspectos da sua própria personalidade e da relação dos discípulos com Ele.

A primeira leitura oferece-nos o fundamento e as exigências básicas de aliança de Deus com o povo de Israel no Sinai. O amor manifestado na obra da libertação da escravidão egípcia pede ao povo uma resposta de amor concretizada nos Dez mandamentos ou Decálogo, uma relação de entrega e dedicação num culto que exclua todo tipo de ídolos, ofereça o tempo num descanso contemplativo e libertador, que use o seu nome como garantia de vida e não de condenação dos inocentes (as três primeiras palavras), e uma relação entre os homens portadora também de vida nos âmbitos da família e da sociedade.

Mas na vida real quer as relações com Deus quer ar relações interpessoais tinham-se convertido em ritos e rituais sem coração, em práticas interesseiras, em legalismos escravizantes.

Neste contexto socio-religioso, e na proximidade da festa de Páscoa, em que se comemorava a libertação da escravidão de Egipto com os sacrifícios no templo, Jesus expulsa os vendedores, com as ovelhas e os bois, e as pombas, do templo, convertido em “casa de comércio”. Com este gesto profético Ele manifesta-se como o Messias enviado a purificar o templo e o culto. Ele é o novo Templo, lugar pessoal e próprio para o encontro com Deus. Ele é a vítima autêntica, pelo que já não são necessários os animais para os sacrifícios da Páscoa pois que nela o seu corpo será destruído pela morte e reconstruído pela ressurreição. Dessa forma inaugura também o novo culto, a relação plena e perfeita com Deus e a relação perfeita entre os homens, numa única palavra, num único mandamento, o de amar até a destruição da própria vida.

As últimas palavras da narração evangélica, lidas à luz da segunda leitura, indicam que Jesus compreende a relação adequada com Ele não num confiar-se aos prodígios, como os judeus, nem a argumentos, como procuram os sábios gregos, mas à fé que se apoia na Escritura e na sua própria palavra, nele mesmo que é a Palavra, aquela que procura unicamente a sabedoria e o sinal da entrega até a morte.

Esta nova Palavra, esta nova Lei, síntese e superação do Decálogo, leva-nos a exclamar com o Salmo, cheios de alegria e de entusiasmo, “Senhor, tu tens palavras de vida eterna. A tua lei alegra o coração, dá luz aos nossos olhos”.

P. Luis Rubio

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