sexta-feira, 20 de março de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO IV DOMINGO DA QUARESMA

PER VERBUM AD DEUM

A catequese da liturgia deste quarto domingo da quaresma está centrada no amor de Deus e na vida autêntica, eterna.

Na primeira leitura, tirada do final do livro das Crónicas, oferece-nos em síntese, uma visão profundamente teológica da história do povo de Deus, centrada no último período do exílio da Babilónia. Toda a história do povo é a história de um amor de Deus não correspondido. Um amor que se manifesta no envio contínuo de mensageiros que com a sua palavra, as suas exortações, os seus gestos a até as suas ameaças, procuram evitar que o povo caminhe para a sua própria destruição. O povo, com efeito, constrói a sua vida sem ter em conta o seu Deus, abandona a sua aliança, fonte de bênção e de vida, construindo assim a sua própria ruína, que tem a máxima expressão no desterro. Mas ainda nesta situação, Deus, movido sempre e só pelo seu amor, pela sua misericórdia intervém mais uma vez, enviando agora outro mensageiro, alguém muito especial, alguém que nem é membro do povo escolhido, que nem sequer conhece ao Deus de Israel, Ciro, “eleito e ungido do Senhor”, e será ele quem salva o povo permitindo voltar para a terra prometida, reconstruir a cidade de Jerusalém, reedificar o templo.

No evangelho, no monólogo colocado nos lábios de Jesus como final da conversa com Nicodemos, Jesus revela a sua origem divina. A elevação do Filho do Homem, que faz pensar no levantamento da cruz, manifesta a sua origem divina, que vem do céu. O olhar de fé descobre nesse Filho do homem elevado na cruz, a manifestação e o sinal extremo do amor do Pai que entrega o seu próprio Filho para dar a vida eterna aos homens. E esse olhar traz a vida verdadeira, eterna, aos homens, como acontecia ao povo de Israel no deserto com a serpente levantada por Moisés. Esta, com efeito, foi fonte de morte, mas, converte-se em sinal de fecundidade e de vida. Nesse olhar para o Filho levantado, o crente acolhe esse amor do Pai, adere a Ele, compromete-se com Ele, e assim converte-se em fonte de vida. Por outra parte, rejeitar esse olhar é rejeitar o amor, é colocar-se fora do âmbito de fecundidade e de vida que jorra da cruz, e constitui por isso mesmo o juízo definitivo do homem sobre si mesmo, a sua auto-exclusão da corrente da vida eterna, a sua própria ruína, o seu fracasso existencial.

A Carta aos Efésios proclama em termos mais teóricos e teológicos, com palavras sublimes, a mesma realidade do amor de Deus Pai, rico em misericórdia, manifestado em Cristo, no nosso viver n’Ele, no ter sido ressuscitados com Ele, estar com Ele sentados no céu. Tudo isso sem nós termos feito nada da nossa parte. Salvos, portanto, por graça e pela graça, e mediante a fé.

Somos convidados a dedicarmo-nos às boas obras, feitas segundo Deus, as obras que dão vida e que transmitem vida. E a “chorar com saudades de Sião” fixando o nosso olhar “n’Aquele que trespassaram”.

P. Luis Rubio

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