Actualmente, vive-se a ilusão do contraditório. Apela-se para o social, mas vive-se o individual. Exige-se a tolerância, mas impõe-se o ponto de vista. Quer-se a dignidade, mas espevita-se a licenciosidade. E a redenção – que é a obra da libertação do mundo através da luta contra todas as servidões – põe-se na gaveta das coisas inúteis e esquisitas. Mistifica-se a ideia de pecado e não se tem em linha de conta as respectivas consequências pessoais, sociais e cósmicas. Com uma agravante: espezinha-se tudo o que seja abnegação, domínio de si, sacrifício, cedência, humildade, esforço, virtude. Hoje, mesmo que algumas destas virtudes se realizem, é com o objectivo da auto-satisfação, da auto-promoção, mais à custa dos outros do que de si mesmo. A tradicional doutrina moral sobre os vícios de que o coração humano é pródigo, foi aniquilada pelas ideologias e doutrinas sem moral que desconsideram o pecado, alijam a responsabilidade, esfarelam a culpabilização e metem no mesmo saco o querer, o poder, o apetecer, o ser lícito, o usufruir – tudo sem hierarquia. Deixou de se pôr o acento no «bem moral» para o pôr no «bem estético», nos gostos caprichosos, nos «acho’s» opinativos e no «é assim» impositivo.
Entretanto... mesmo que a nossa teimosia o queira negar, continua a ser verdade que o elemento material do pecado é a rebelião da carne contra o espírito, das tendências vitais contra a consciência moral. Continua a ser verdade que não param de agir as duas desordens instintivas no homem: o orgulho e o desejo dos prazeres e, naturalmente, o orgulho vence. Vencendo, passam a ser considerados “normais” os desordenados deleites carnais e o anelo em gozá-los, muito para além do instinto natural da conservação do indivíduo e da espécie. Do mesmo orgulho nasce a preguiça, desenvolve-se a luxúria e estimula-se a intemperança no comer, no beber e nas diversões. Aumenta o apetite dos bens exteriores (riqueza, fausto, luxo em geral). E tudo ganha corpo na ambição, na jactância e na presunção, descambando em ódios, impaciências, rancor, impropérios e maledicências. E tudo sem culpabilização, que na ética sem deveres não pode haver sentimento de culpa! Assim, perde-se o bom senso...
P. Madureira da Silva
Perder o bom senso faz-me lembrar uma casa às escuras...Por momentos, se a luz se apagar os acidentes podem acontecer...Tropeçamos, esbarramos, desviamo-nos mas, se não estivermos sós, facilmente somos acompanhados nestas dificuldades e estas são superadas. Que bom! Na sociedade actual, há "brilhantes" manifestações de "quero, posso e tenho" que, exibindo um "apagão", nada momentâneo, potenciam negros episódios familiares e sociais. Mais ainda, quando os "iluminados", de hoje, pensam poder sobreviver orgulhosamente ...sós. Que pena!
ResponderEliminarA escuridão é contraditória...