sexta-feira, 3 de abril de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR

PER VERBUM AD DEUM

O Domingo de Ramos na Paixão do Senhor abre as celebrações da Semana Maior ou Semana Santa, em que comemoramos o mistério da morte e ressurreição de Jesus.

As leituras mostram-nos o paradoxo da figura de Jesus e levam-nos a reconhecer e a proclamar tanto a sua plena condição humana, de “filho do homem”, como a sua verdadeira condição divina, de “o Filho de Deus”.

A leitura que precede e ilumina a procissão dos Ramos, tirada do evangelho de Marcos, com a qual comemoramos a entrada solene de Jesus em Jerusalém apresenta-nos a aclamação entusiasta, alegre e triunfal que o povo tributa a Jesus como “aquele que vem em nome do Senhor. Hosanna nas alturas”, mas ao mesmo tempo oferece-nos o seu caracter humilde, pois entra não num cavalo ou carro de guerra, como era habitual nas entradas triunfais dos reis e generais, mas sentado num jumentinho emprestado e preparado simplesmente com as capas dos que junto a ele caminham.

A primeira leitura da Eucaristia, do profeta Isaías apresenta a figura do Servo que escuta atento a palavra de Deus e nela descobre o Seu projecto de “dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos”, uma palavra eficaz e verdadeira; que acolhe e assume esse projecto como a sua própria missão pessoal, como a realização plena da sua vida; que enfrenta as consequências penosas dessa decisão com uma fortaleça sobre-humana, reveladora da sua íntima, amorosa união com Deus, com uma confiança total na Sua presença seguro de não ser abandonado na sua dolorosa situação. Este Servo prefigura e antecipa a Jesus, atento à palavra de Deus, forte diante da paixão ocasionada pela sua solidariedade com os homens a qual o leva a realizar o projecto salvador de Deus.

O texto da Carta de S. Paulo aos Filipenses, que recolhe um hino cantado sem dúvida nas celebrações das comunidades primitivas, apresenta o abaixamento de Jesus, que assume plenamente a condição de servo apesar da sua condição própria divina, e como consequência desse seu abaixamento motivado pelo seu amor aos homens é exaltado por Deus de maneira que é proclamado “Senhor” por toda a criação – céu, terra, abismo - realizando assim a glorificação do Pai.

A narração da Paixão de Jesus tal como é apresentada por Marcos, clarifica a pergunta que sobre Jesus recorre todo o seu evangelho: tu quem és? Um homem verdadeiro dominado em Getsémani por uma “tristeza de morte” diante da tragédia que lhe espera, experimentando na cruz o dramático silêncio de Deus e, ao mesmo tempo, o “Filho” que se dirige a Deus com a palavra “Abba-Pai”, expressão da ternura e confiança, que acolhe cordialmente o seu projecto, que manifesta a sua “condição divina”, o seu “senhorio sobre-humano” diante das calúnias dos seus juízes, diante dos gritos e insultos da multidão, diante da atrocidade das suas dores, e que no seu último suspiro mostra-se capaz de lançar um grito vibrante, sinal do seu poder sobre a morte, grito que estremece ao centurião romano e que o leva a proclamar: “este homem é realmente Filho de Deus”.

Somos convidados, pois, a contemplar e admirar a condição humana de Jesus repetindo com Ele: “meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? E a aclamar e adorar o Senhor da vida e da morte gritando com o centurião: “Sim, verdadeiramente este é o Filho de Deus”.

P. Luis Rubio

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