Seja qual for a idade, a cultura e a riqueza, ninguém pode dizer que lhe faltam razões para se decidir a fazer voos interiores. O prospecto da Companhia de Aviação do Luxemburgo é que dizia «esta companhia não faz voos internos». Pudera! Mal o avião levantava, já estava em território estrangeiro! Mas na vida as coisas não são assim. Todas as idades são varridas por ventos de dificuldades e por momentos melindrosos, sobretudo quando a saúde falta, os acidentes acontecem, a esperança se esboroa, os objectivos se não alcançam e a solidão escancara as portas. Infelizmente, há muitas pessoas que se escusam a entrar na própria máquina voadora ou porque nunca aprenderam a contemplar, ou porque algumas ideologias lhes toldaram a alma, ou porque já se esqueceram, ou porque decididamente resolveram não ter tempo para essas coisas. Mas também há muita gente que faz imensas viagens interiores, aproveitando, para isso, o silêncio apelativo das igrejas. Há idosos que vão lá rezar, talvez por terem medo de morrer. E muitos jovens, talvez por terem medo de viver. Esses jovens e esses idosos sentem-se muito frágeis se Deus não lhes dá a mão. E vão à igreja rezar um pouquinho, encontrar-se consigo mesmos, como se fossem ao bar tomar um copito. A diferença é que a oração ajuda a lembrar, e a bebida ajuda a esquecer. No ambiente calmo e sagrado das igrejas, contemplando, a sensação que os absorve é extraordinária. O interior da alma, mesmo escuro pelas complicações e partidas que a vida prega, mostra-se exteriormente como um arco-íris de paz.
Apetece-me dizer às pessoas preocupadas, stressadas, que não joguem o jogo do pessimismo nem da apatia, nem caiam na asneira de imitar os que não sabem voar! Mesmo que – por falta de hábito ou por aversão atávica – não se predisponham a procurar o silêncio da contemplação, é muito bom, ao acordar, pensarem que têm um dia pela frente que urge viver intensamente, que têm de se deixar maravilhar com coisas de nada, que todas as criaturas são um bom princípio de reflexão e uma boa razão para viverem plenamente as alegrias e suportarem dignamente os sofrimentos e as contrariedades. Que nunca deverão esquecer-se de respirar o perfume da vida, de cultivar a chama da alegria interior, de sentir o carinho do ar que afaga o rosto, de captar, com todos os sentidos, as imagens, os cheiros e as músicas do mundo. Que não podem deixar de saborear o gosto da vida, o néctar da amizade, a alegria da esperança e o perfume da virtude.
P. Madureira da Silva
Que bons conselhos!
ResponderEliminarQuando a falta de tempo é desculpa para se não ter tempo para viver as cores, os cheiros, os sabores e os sons...coitado do tempo, que tem de saber viver com o cinzento, o fétido, o azedo e os muitos decibéis!...
Tomara que cheguem as joaninhas! Podem servir de motivação!