A nossa tendência natural leva-nos a olhar com satisfação para o cartaz do partido da nossa predilecção e com uma espécie de repulsa sorridente quando olhamos para os outros. E, nestes tempos de crise, faz-nos também criticar a quantidade de dinheiro gasto nestas dispendiosas inutilidades! Todos sabemos que na propaganda política já não há novidades e que os partidos são extraordinários a imitarem-se uns aos outros. Até as cores que antes os identificavam andam agora todas baralhadas. Hoje já se não sabe a quem pertence o azul, o amarelo, o verde e o encarnado! Não é que isso perturbe a capacidade e liberdade de escolha no momento de votar, pois tal escolha obedece a outros critérios muito mais profundos e autênticos! Mas não deixa de não ser perturbador que a política partidária trate os cidadãos como se estes não passassem de aderentes de clubes desportivos e a presumir que os eleitores já se habituaram a votar no partido X da mesma maneira que se habituaram a defender as cores do clube da sua predilecção. Eles bem sabem que, no clube, não há razões para se ser mais atraído por este em detrimento daquele: e sabem também que a clubite domina a capacidade de escolha e determina irracionalmente que o nosso é melhor e que os outros não valem nada. Em vez de razões, há emoções, afectividades. Partidariamente, é mais ou menos o mesmo.
Os partidos – e quem lhes dá rosto e voz – fazem da política (que é algo de muito sério) um jogo público de interesses ideológicos, de poder e prestígio, como se tudo não passasse de desporto para os da bancada (que somos nós) e de seriedade profissional para os jogadores (que são eles). Prometem o mais que podem, mesmo convencidos de que não vai ser possível cumprir o que prometem. Prometem muito para convencerem os eleitores de que o seu castelo está mais seguro se votarem neles e mais bem aferrolhados os seus portões se lhes dão a maioria. As campanhas eleitorais são, por isso, um tempo de muito barulho, de acusações mútuas, de promessas enganosas e de ataques pessoais. Curiosamente, são ataques pessoais sempre coloridos. Na televisão e nas rádios, os moderadores e técnicos ficam amarelos, o director fica encarnado e os ouvintes azuis com as mútuas sentenças injuriosas, acusações caluniosas e mentiras ultrajantes. Nesses «frente-a-frente», o civismo desaparece e a lavagem pública da roupa suja é o pratinho que os coleccionadores de escândalos mais saboreiam. Autênticos frasquinhos de veneno, alguns candidatos deixam escorrer muita astúcia, depois de os respectivos apaniguados os convencerem de que são os melhores, os únicos, os que têm a verdade sempre do seu lado, – que a mentira e a fraude estão sempre do lado dos outros. Nesta onda, muitos vigarizam, infamemente, a ingenuidade e lealdade dos seus eleitores. Não admira, por isso, que a política tenha a fama que tem!
P. Madureira da Silva
Que bonito é poder ler assim, tão "elegantemente" narrada, a verdade dos nossos dias de «motivação» e/ou «desencaminhamento» político!
ResponderEliminarTexto lindo!