quarta-feira, 6 de maio de 2009

S. CLEMENTE DE ROMA E A EPISTULA AD CORINTHIOS (c. 96 d.C): apelo à obediência e unidade eclesial (2ª parte)

Após a leitura e reflexão atentas deste magnífico documento, iremos agora destacar, nesta segunda parte, alguns pontos essenciais para a compreensão teológica da Carta.

Comecemos pelo Mistério da Trindade:

A ideia da bondade de Deus Pai, e não só da sua omnipotência e soberania, é uma das que penetra mais profundamente a alma e a escrita de Clemente. A confirmá-la temos, por exemplo, estas passagens:

«O Pai sumamente misericordioso e bondoso, tem entranhas de misericórdia para os que o temem e, com doçura e gentileza, reparte as suas graças por aqueles que dele se aproximam em simplicidade de espírito. Por isso, não vacilemos nem a nossa alma se glorie com os seus extraordinários e gloriosos dons » (XXIII,1-2)

«Obedeçamos à sua vontade magnificente e gloriosa e, suplicando a sua misericórdia e bondade, prostremo-nos e voltemo-nos para a sua compaixão, abandonando as vãs ocupações a contenda e a inveja que conduz à morte » (IX,1).

Como se pode ver, particularmente neste último texto, o autor convida os insurrectos a suplicar a compaixão divina e, ao mesmo tempo, a emenda de vida, como meio de experimentar a presença de um do Pai cheio de misericórdia.

Um outro aspecto que merece sublinhar neste escrito e como expressão deste Deus Pai misericordioso é a correcção que ele próprio nos quer fazer:

«Vede, queridos irmãos, que grande é a protecção do Senhor àqueles que ele corrige. Pois, sendo um Pai bom, ensina-nos a ser misericordiosos, mercê da sua santa correcção» (LVI,16). E «Na verdade, diz a santa Escritura: O Senhor castigou-me, mas não me entregou à morte. Efectivamente, o Senhor corrige aquele que ele ama, ele castiga e todo o filho que ele acolhe» (LVI, 3-4).

Como se vê, o deixar-se corrigir pelo Senhor é, pois, um meio excelente para saborear a misericórdia proveniente de um Deus que é Pai e que, como tal, educa e corrige o filho que não procede de forma correcta.

Além disso, também na oração conclusiva, que é um bonito hino “teológico”, refere-se não só à força, sabedor e magnificência de Deus mas essencialmente à revelação da sua misericórdia e bondade:

«Tu, Senhor, que criaste o mundo habitado, tu fiel, por todas as gerações, justo nos juízos, admirável em força e magnificência, sábio na criação, inteligente na sua execução, bom nas coisas visíveis e fiel nos que em ti confiaram, Misericordioso e compassivo, perdoa-nos os nossos pecados, injustiças, faltas e negligências. Não tenhas em conta o pecado dos teus servos e servas, mas purifica-nos com a purificação da tua verdade »(LX, 1-2).
No que diz respeito à sua cristologia, Clemente considera que a Segunda Pessoa Divina depende do patriarca Jacob, segundo a carne (kata<>rka) (XXXII,2), embora seja o Filho de Deus (XXXIV,4). A eternidade de Jesus Cristo enquanto Filho é afirmada ainda através das expressões “esplendor da glória” e “majestade do Pai” (XXVI,2; XVI,2). Pela sua paixão redimiu o género humano (XLIX,6; XXXVI,1) e na sua ressurreição encontra-se o fundamento e a garantia da ressurreição do homem (XXVI; XXIV,1).

O Espírito Santo é o inspirador das Escrituras (XXII,1; XLV,2), dos pro-fetas (VIII,1), dos apóstolos (XLII,2), o pacificador da Igreja (II,2; LXIII,2) e a fonte do conhecimento perfeito (XLII,3). Ao Espírito Santo são atribuídos ainda os carismas da caridade fraterna, da alegria bem como de todos os outros dons que provêm do alto (LIV,1).

Drª. Teresa Pereira

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