quarta-feira, 13 de maio de 2009

S. CLEMENTE DE ROMA E A EPISTULA AD CORINTHIOS (c. 96 d.C): apelo à obediência e unidade eclesial (2ª parte - cont.)

Continuando a análise teológica deste escrito, vamos hoje fazer uma breve referência à eclesiologia de S. Clemente:

O objectivo da sua Carta é, de facto, expressamente eclesiológico (LXIII,2).

Na verdade, a Igreja é para Clemente um corpo vivo que implica, de modo inseparável, as suas duas dimensões: a espiritual e a visível.

Prefigurada no Antigo Testamento (XL-XLIII), é apresentada como o Novo Israel, depositário das promessas de Deus (LIX). É a Igreja de Deus, porque constituída pela assembleia dos “convocados” pelo mesmo Deus (XXIX).

O autor vê, pois, a Igreja em continuidade com o antigo Israel. Daí que recorra, com bastante frequência, às passagens do AT (esta Carta possui mais citações do Antigo Testamento do que qualquer outro livro do Novo Testamento, em particular).

Para Clemente não existem “dois tempos” nem um salto do Antigo para o Novo Testamento. O verdadeiro Israel (XXIX,1-XXX,1) possui como réplica a comunidade cristã, organizada e submetida aos presbíteros e a toda a autoridade (LX,4).

A Igreja é, pois, o corpo de Cristo (XLVI,7), “o primeiro eleito” (LXIV) que convoca os crentes para a reunião do Reino e que actua em favor dos seus membros (II,1). A sua dimensão peregrinante (I,1), a concórdia e a unidade constituem os traços característicos deste povo eleito.

Como realidade social e visível, a Igreja deve permanecer fiel ao que foi estabelecido pelos apóstolos (LXII,3-4; XLIV,1-3), uma vez que ela é o “rebanho de Cristo” (XLIV,3; LIV,2; LVII,2), presidido pelos seus pastores.

As admoestações morais, em forma de catálogo de vícios ou de relatos exemplares, destinam-se não só à prática da paz e da concórdia como um valor social, mas também enquanto valor eclesiológico.

Drª. Teresa Pereira

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