terça-feira, 13 de outubro de 2009

Inácio de Antioquia e a unidade e catolicidade da igreja

(Introdução-4ª parte)

Na 4ª e última parte desta nossa introdução à vida e obra de Santo Inácio de Antioquia, centramo-nos, a partir de hoje, na estrutura e resumo das suas Cartas.

Ora, todas as Cartas, à excepção de Rom, cujo objectivo era outro, possuem uma estrutura e conteúdo algo semelhantes:
1.Saudação inicial;
2.Elogio das qualidades da comunidade à qual se dirige;
3.Recomendações urgentes: fugir da heresia, manter a unidade com o bispo, tomando parte de uma única eucaristia celebrada num único altar;
4.Saudação final e pedido de orações pela Igreja da Síria.

Comecemos, hoje, por aquela que este ilustre bispo dirigiu à comunidade de Éfeso:

Na Carta aos Efésios (Eph), temos a destacar: uma saudação inicial, na qual se dirige à comunidade cristã residente em Éfeso, designando a Igreja de “predestinada” e “digna de toda a bem-aventurança”. No primeiro capítulo informa os cristãos de que irá até Roma “lutar com as feras”, pedindo orações por ele, ao mesmo tempo que, na pessoa do bispo Onésimo, os incita a permanecerem fiéis no amor a Cristo.

A seguir, chama a atenção para a necessidade de uma obediência unânime à hierarquia, de um modo particular aos bispos (II e III), que se encontram profundamente unidos a Cristo. O bispo é o centro da unidade (IV-V) e o representante visível de Jesus perante a Igreja (VI). No capítulo VII dirige um forte alerta contra os hereges, que designa de “cães raivosos” por morderem às escondidas.

No nº 2 deste capítulo, encontra-se o gérmen do símbolo de fé que, mais tarde, em Niceia, iria ser declarado firme-mente: por um lado, o nascimento espiritual de Cristo ao ser gerado desde toda a eternidade como Filho de Deus e, por outro lado, o nascimento carnal, ao se ter feito homem e Filho de Maria. (Cf. XVIII).

Os cristãos, perante a revelação de tal Verdade, não se podem, pois, deixar enganar por doutrinas contrárias à sua (VIII), na medida em que são “portadores de Deus e portadores de um templo, portadores de Cristo e portadores de santidade” (IX). Em contrapartida, devem esforçar-se por levar uma vida santa através da prática das virtudes (X-XI,XIV-XV), afastando-se, assim, do “mau odor” da doutrina do “príncipe deste mundo”(XVII). Paulo é declarado, pela primeira vez, santo (XII).

O capítulo XIII é particularmente importante, pois nele o bispo de Antioquia admoesta os cristãos à celebração frequente da eucaristia, como instrumento e fonte de paz, unidade e comunhão. No capítulo XVI faz referência à condenação eterna dos que corrompem a família, podendo incluirse, ainda que de forma implícita, os defensores do aborto, do divórcio e do amor livre.

Aquilo que Inácio designa de forma tão original por “três mistérios sonoros cumpridos no silêncio de Deus”, são: a virgindade perpétua de Maria, o nascimento e a morte de Cristo (XIX).

O capítulo XX é particularmente significativo, pois ressalta a “economia” divina da salvação trazida por Cristo, o homem novo, mediante O qual nos faz congregar na unidade e reunir obedientemente à volta do bispo e de um “só pão”. Aqui, Inácio designa a eucaristia de “remédio de imortalidade”, “antídoto contra a morte” e “alimento de vida eterna” em Jesus Cristo. Nas recomendações finais (XXI), o bispo de Antioquia afirma ter sido “escolhido para a glória de Deus” como “preço do resgate” dos cristãos da Síria, pedindo orações pela mesma.

Drª. Teresa Pereira

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