terça-feira, 20 de outubro de 2009

Inácio de Antioquia e a unidade e catolicidade da Igreja

(Introdução-4ª parte )(cont.)

Na Carta aos Magnésios (Magn), destaca, de modo tão original e pro-fundo, a figura de Deus Pai como “bispo invisível” ao qual não se deve enganar (III,2). Não basta apenas ter o nome de cristão, mas sê-lo efectivamente, pelo testemunho consciente e sincero de vida, alimentado pela celebração do “culto divino” (IV). Pois, o “cunho da moeda” do mundo, própria dos incrédulos, não pode coexistir com a de Deus, gravada por Jesus Cristo e própria dos fiéis pelo exercício da caridade (V).

O capítulo VI possui uma forte advertência à concórdia, destacando para isso a importância do papel do bispo, que ocupa o lugar de Deus na comunidade, bem como dos presbíteros e diáconos.
Por aqui se vê como a Igreja visível se encontrava já estruturada em três graus hierárquicos como hoje, sendo especialmente o bispo a cabeça da unidade eclesial, através do múnus da presi-dência à qual todos se devem submeter (XIII).

A fonte e o centro da unidade encontra-se em Jesus Cristo, pois “melhor que Ele nada existe” (VII). Por isso, não se pode viver à margem d’Ele (IX). Viver à margem de Cristo e do testemunho dos apóstolos transmitido pelos bispos, equivale a seguir “doutrinas estranhas” (VIII) que não passam de velha e “má levedura” (X,2).

Na verdade, no pensamento do bispo antioqueno, viver de acordo com o cristianismo exige uma transformação na “levedura nova” que é Cristo (X). Aborda ainda a questão da observância do sábado, defendida pelos judaizantes. Ao contrário destes, os cristãos não observam já o sábado, mas sim o domingo ou Dia do Senhor (IX), de onde se conclui, pela antiguidade da fonte, que a observância do domingo pelos cristãos é, de facto, de instituição apostólica. Mas Inácio vai ainda mais longe contra os costumes judaicos, ao afirmar que se torna absurdo professar Cristo com a boca e judaizar, ao mesmo tempo na medida em que não foi o cristianismo que acreditou (“abraçou”) no judaísmo, mas sim este naquele (X).

A afirmação do nascimento, paixão e ressurreição de Cristo, sob o governo de Pôncio Pilatos é uma forma de, perante os docetas, demarcar a verdade da humanidade de Jesus, contra a pretensão de uma falsa aparência (XI).

Nas recomendações finais (XIV-XV) solicita, mais uma vez, a caridade e oração dos magnésios, tanto para com ele como para com a Igreja da Síria.

Dr.ª Teresa Pereira

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