sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Comentário às leituras do Domingo XXXII (ano B)

Crer é dar e dar-se! Seguir Jesus é dar-se a si próprio. Esta não é tanto uma condição que Jesus coloca aos seus discípulos, mas é mais uma consequência necessária daquilo que o próprio Cristo fez: «ter-Se oferecido uma só vez para tomar sobre Si os pecados da multidão» (Hb 9,28). Dar e dar-se é o grande testemunho do nosso ser de Cristo!

A passagem do Primeiro Livro dos Reis, que nos conta o milagre de Sarepta, coloca em realce a confiança do Profeta Elias e da viúva. Inserido no contexto polémico contra Baal – o deus da chuva, advogado da fertilidade e das boas colheitas – e seus apoiantes, Elias confiado na Palavra de Deus e a viúva obedientemente apoiada na palavra de Elias, contra toda as aparências contrárias, mantêm a sua fé. Esta confiança e obediência totais levam a viúva a dar provas de grande generosidade, de generosidade perfeita – dar tudo! Afinal, Deus é providência!

A Epístola aos Hebreus retoma uma vez mais o tema do sacerdócio de Cristo. Nesta passagem, o autor, dedica-se a explicar o que é o templo e qual a oferta apresentada, como que fazendo uma releitura, em chave litúrgica, do acontecimento de Sexta-feira Santa. De facto, a identidade de Jesus é-nos revelada na cruz. Ele é o Sumo-sacerdote de uma nova aliança, que, através da sua subida à cruz e não da entrada no templo, Se oferece a si próprio pela vida do mundo, destruindo o pecado do homem e abrindo a porta do templo celeste, a porta dos céus. Ali, sobre a cruz, o dar-se de Jesus torna-se intercessão (acção do sacerdote) em nosso favor.

O Evangelho de Marcos, partindo da denúncia da aparência e do querer ser visto, dá a verdadeira resposta que espera ser vivida e manifestada por todos quantos se propõem segui-l’O. A aparência esconde a verdade da atitude e sentir interior. Não basta afirmar que Jesus é o Filho do Homem ou o Filho de Deus. A resposta não pode ser simplesmente intelectual; terá que envolver toda a própria existência, como o faz a viúva. Aliás, a viúva, que tudo oferece, parece ser apresentada como uma imagem de Deus, como uma imagem do próprio Jesus Cristo. Uma vez mais, a palavra coloca em manifesto a preferência do Senhor pelos pobres e a sua acção providente e solícita. A resposta do pobre (viúva) é a resposta do homem de Deus, daquele que se oferece, que se dá, não porque Deus o exige, mas porque percebe que Deus o fez primeiro, em favor de todos os homens, e com Ele a querem dar aos irmãos! Este sim é o pedido de Deus! De tudo fazer-se dom aos irmãos!

O Salmo, resposta à primeira leitura, surge como verdadeiro louvor a Deus pelo dom de fidelidade e confiança de Elias e da viúva (e claro, do próprio Cristo e da viúva do Evangelho). Deus é verdadeiramente providente. Dar-se “significa” receber de Deus o que precisamos.

P. Francisco Couto

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