terça-feira, 3 de novembro de 2009

Inácio de Antioquia e a unidade e catolicidade da Igreja

(Introdução-4ª parte )(cont.)

A Carta aos Filadelfos (Phil) é toda ela um apelo veemente à unidade.

Logo na saudação inicial, Inácio manifesta a sua profunda alegria se os cristãos de Filadélfia permanecerem unidos ao bispo, presbíteros e diáconos.

No elogio que faz ao bispo da comunidade, Inácio ressalta a serenidade eloquente de um homem que, embora silencioso, produz maior ressonância que a verborreia dos cismáticos, justificando, de forma tão original, que o mesmo se encontra de tal forma harmoniosamente unido à vontade de Deus como as cordas se encontram unidas à cítara (I). Quer dizer, porque se encontra ao serviço da comunidade, por mandato divino, deve testemunhar, com coerência, a sua profunda comunhão com Deus.

Em seguida, denomina os cristãos, à boa maneira joanina e paulina, respectivamente, de “filhos da luz verdadeira” e “atletas de Deus”, os quais devem fugir dos “lobos” (más doutrinas) e seguir unicamente o “pastor” (II), que é Cristo.

As doutrinas heréticas e cismáticas são aqui também denominadas de “er-vas daninhas” que Cristo não cultiva por não serem plantação do Pai (III). Mais à frente, denomina os judaizantes de “colunas sepulcrais” ou mesmo de “sepulcros” (VI,1). Há, pois, que evitar tais “ervas” (más doutrinas) e “sepulcros” e permanecer na unidade da Igreja, em comunhão com o bispo e com os restantes membros da hierarquia (III,2;VII,1).

Na verdade, é bem clara a posição do mártir de Antioquia: a Igreja mantém a sua unidade ao redor do seu bispo legítimo (VII-VIII). Pois quem seguir, pelo contrário, os cismáticos não poderá obter a salvação (III).

O convite à unidade estende-se não só à hierarquia como a todo o corpo eclesial: “Todos vós, porém, uni-vos num só coração indiviso” (VI,2; Cf. X,1). O “segredo” e o centro desta unidade encontra-se na única eucaristia verdadeira, celebrada na igreja e ao redor do bispo e restantes ministros sagrados (IV). Este capítulo contém, de facto, uma importante eclesiologia eucarística. A primazia da novidade cristã frente ao judaísmo, sobretudo como resposta a algumas seitas judaizantes, é particularmente relevada nos capítulos VIII,2 e IX.

Contra os que tinham dificuldade em aceitar o evangelho como revelação plena e definitiva, Inácio afirma que todos os seus « arquivos » , isto é, tudo aquilo no qual se tem que fundamentar, se cifram unicamente em Cristo (VIII), aqui designado por “porta de Deus”, pela qual entram, de forma intimamente unida, os patriarcas, os profetas, os apóstolos e a Igreja (IX,1). Deste modo, a revelação do Evangelho é o “acabamento e perfeição” da do AT. Por isso mesmo, tornar-se-ia urgente aceitar a novidade evangélica e não ficar meramente apegado aos “arquivos” da antiga revelação IX,2).

Assim, os “arquivos” aos quais o autêntico cristão se deve apegar são: a vinda ou parusia do Salvador, a sua paixão, morte e ressurreição e a fé que d’Ele procede (VIII,2; IX,2).

Na recta final da sua Carta, o mártir manifesta a sua alegria por ter tido boas notícias da comunidade de Antioquia, a qual readquiriu a paz (X,1) e, na despedida, agradece a atenção e o carinho que tem recebido de todos (XI).

Drª. Teresa Pereira

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