terça-feira, 10 de novembro de 2009

Inácio de Antioquia e a unidade e catolicidade da Igreja

(Introdução-4ª parte )(cont.)

Na Carta aos Esmirnenses (Smyrn) transparece, de forma profunda, o espírito eclesial do mártir de Antioquia. Trata-se de uma Carta muito bem “sistematizada”, reforçando o apelo à fidelidade à doutrina apostólica, a qual se distancia radicalmente da doutrina proposta pelas heresias. Mais uma vez, é ressaltada a figura do bispo como elo de unidade e comunhão entre todos os membros da comunidade. Na saudação que dirige à comunidade de Esmirna, Inácio designa a Igreja de “portadora de santidade”. De facto, a “nota” de santi-dade da Igreja encontra-se muito bem vincada no espírito deste autor.

Os capítulos iniciais são uma resposta às doutrinas docetas. Os dois primeiros capítulos contêm uma profunda e resumida profissão de fé, mais completa ainda que a de Eph VII,2, na qual se reforça a realidade do nascimento virginal de Cristo, a sua crucifixão, morte e ressurreição.

O segundo capítulo possui uma afirmação muito firme sobre a certeza real (não aparente) da ressurreição de Cristo: “Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos a salvação. Padeceu verdadeiramente, como também verdadeiramente ressuscitou, não padecendo só aparentemente, como afirmam alguns infiéis. Eles é que são a pura aparência” (II,1).

A fundamentação e explicação “teológica” da autenticidade e realidade da ressurreição encontra-se no capítulo seguinte, deste modo: “Após a ressurreição, comeu e bebeu com eles [apóstolos], como homem de carne que era, ainda que estivesse unido espiritualmente ao Pai” (III,3). Deste modo, Inácio pretendia reafirmar que a corporeidade do ressuscitado era, pois, um fa-cto real e não aparente. Por esse motivo, justifica ainda que a sua própria ex-periência de sofrimento não é algo aparente, porque ele próprio se prepara pa-ra sofrer verdadeiramente na carne as atrocidades do martírio (IV). Negar a realidade da carne significa maldizer o Senhor (V; Cf. XII,2).

Em seguida, refe-re-se à necessidade de se viver uma vida repleta de virtudes, radicada, sobretudo, na fé e na caridade, “às quais nada se pode antepor” (VI,1).

Enquanto os cristãos procuram viver à luz da fé e da caridade, as “doutrinas alheias à graça de Jesus Cristo” não vivem de acordo com a caridade (VI,2). Ora, o centro e a fonte da caridade é, obviamente, a eucaristia. Logo, os hereges por “fugirem” da eucaristia, que “é a carne de Cristo”, não vivem de acordo com a caridade (VII) e, portanto, não compreendem a grandeza da humanidade do Salvador.

Ao contrário, a marca do cristão é efectivamente a caridade, como sinal de perfeição: “Se sois perfeitos, tende também pensamentos de perfeição” (XI,3).

O capítulo VIII é todo ele importante do ponto de vista eclesiológico. Mais uma vez, o mártir de Antioquia ressalta o dever de respeitar e seguir as orientações da hierarquia, não se devendo fazer nada do que diga respeito à Igreja, nem muito menos celebrar a eucaristia, à margem do bispo, presbíteros e diáconos, pois: “Onde quer que se encontre o bispo, ali esteja também a comunidade, do mesmo modo que onde estiver Jesus Cristo aí esteja a Igreja católica” (VIII,2).

Esta afirmação é particularmente significativa para se entender o verdadeiro significado da Igreja, segundo a óptica inaciana. Na verdade, a Igreja só se compreende na ligação apostólica com o bispo (Cf. IX).

Por outro lado, é aqui que surge, pela primeira vez, o sentido de catolicidade ou universalidade da Igreja, pela introdução da designação « Igreja Católica».

Drª. Teresa Pereira

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