quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Natal… só com Advento

Dois meses antes, começam os preparativos. A publicidade nos Meios de Comunicação Social dá o tom, as lojas entulham-se de atractivos, as ruas e as montras começam a ficar decoradas, as luzinhas eléctricas e a música ambiente fazem jus aos técnicos da electricidade e do som, e até a pequenada suspira de alívio por sentir próxima mais uma época propícia às prendas e às férias. O natal já não demora. Os catálogos de compras multiplicam-se, fazem-se listas e planos, os supermercados não têm mãos a medir, aumenta a azáfama e a balbúrdia e muita gente até já começou a treinar um sorriso simpático. O natal exige muita preparação, a tradição tem de manter-se porque, quer se queira quer não, o natal é sempre natal! Reaparecem símbolos anacrónicos e sem conteúdo: sinos, anjinhos, azevinho, estrelas e muitas guarnições com que se enroupam historietas nada cristãs. Noventa por cento das pessoas da nossa época electrónica acha tudo isso muito natural e muito bom! Está a chegar o Natal. Ou melhor: está próxima a época em que se utiliza a palavra «natal» não se sabe bem para quê nem porquê.

O verdadeiro natal, o natal de Jesus, com a sua envolvência electrizante, doutrinal e apelativa, fica a milhas de distância. Aliás, até parece que as figuras e as realidades que menos falta fazem às pessoas da época electrónica são precisamente as que dão razão de ser ao natal: Jesus, Maria e José. Bem sei que estamos dominados pelos «deuses» do consumismo e das tradições populares. Mas também sei que o natal não é uma festa igual à festa da cerveja ou ao dia dos namorados ou aos folguedos das festas populares. O natal é outra coisa! Por isso, permitam-me dizer que, para a celebração das festas litúrgicas mais importantes, como é o natal, a Igreja propõe que as preparemos a partir de dentro, e considera mais importante a sua celebração interior do que a exterior. Para a celebração interior, diz-nos que o processo da sua preparação é o caminho da penitência, apesar de esta – a penitência – ser completamente incompreendida ou ignorada pelo mundo. É verdade que, tal como os cristãos, o mundo gosta de festejar os acontecimentos, não se importando se estes são religiosos ou não. O que quer é festa. E alegra-se muito com a festa; mas a festa que faz é só exterior. A sociedade de consumo cria em nós a impressão de que o natal tem de ser preparado com muitas compras e sem penitência nenhuma. De tal modo que os que querem viver o Natal no íntimo da sua fé têm de fechar os ouvidos ao alegado “espírito natalício” que invade as ruas e as casas nessa altura. A sociedade prefere viver embevecida numa ilusão de plástico, num natal de cromos.

Para a celebração do natal, o advento é a marca que distingue, na sociedade, quem é cristão e quem o não é. As quatro semanas que preparam a festa de anos de Jesus, são um tempo de esforço espiritual em que se lembra aos cristãos a purificação da própria consciência e a solidariedade na partilha. Assim, muitos agem nessa conformidade. No meio da sedução materialista, o mundo não entende que “a felicidade está mais em dar do que em receber”. Mas o cristão entende. Por isso, reza e aprende a viver dignamente no mundo. E faz jejum, para saber suportar bem os azares da vida. E dá esmola, para permitir que muitos outros possam também fazer festa e para entender o quão difícil é viver no meio das carências que lhes acontecem. O cristão entende que o Natal é a festa do Deus que nos abre o caminho para a felicidade através do frio da manjedoura, pois o Menino teima em querer nascer, de forma simbólica, é verdade, como se fosse simplesmente a celebração repetida de um aniversário. O cristão sabe que quem o traz, ao lado do marido, é a Senhora. E a Senhora, no século que é o nosso, não é uma mulher: é a Igreja composta de todos os cristãos. Quem vai à igreja, de certeza ouviu a Igreja dizer que, para celebrar o Natal, tem de ser a partir de dentro.
P. Madureira da Silva

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