terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

“Epistula” Barnabae: a herança do judeo-cristianismo.

Breve resumo doutrinal

Iniciaremos, a partir de hoje, a abordagem ainda que sumária, a mais outro precioso testemunho da antiguidade cristã: a “Epístola de Barnabé” (Epistula Barnabae (Barn) ), que se trata mais um tratado teológico do que propriamente uma carta, na medida em que não possui introdução e conclusão nem quaisquer traços pessoais. O seu conteúdo é de carácter geral e nela não aparece nenhuma indicação de que tivesse sido dirigida a alguém em concreto. Ficou, no entanto, integrada no género epistolar em virtude dos escritores cristãos primitivos considerarem este género como o único apto para dar instruções piedosas ou para se dirigirem a um grupo restrito de leitores.

Dado o limite de tempo que dispomos, vamos apenas centrar-nos, numa breve referência, à questão do autor, data e local de composição, para depois passarmos à análise, ainda que também sintética, do conteúdo doutrinal deste primeiro documento.

1- Autor, local e data de composição

Apesar de, desde os tempos mais remotos, a tradição ter atribuído ao apóstolo Barnabé, companheiro e colaborador de Paulo, a autoria deste documento, este nada diz em parte alguma que Barnabé tenha sido o seu autor, sem sequer reclama da sua origem apostólica.

O Codex Sinaiticus, do sec IV, coloca a “Epistula” entre os livros canónicos do NT, imediatamente logo a seguir ao Apocalipse de S. João. Clemente de Alexandria (secs.II/III) retira dela muitas passagens, que cita na sua obra Stromata, e atribui-as ao apóstolo Barnabé. Orígenes (sec III) designa-a de “epístola católica”, citando o texto de Barn V,9, na sua obra Contra Celso I,63, e enumera-a entre os livros da Sagrada Escritura. Contudo, Eusébio de Cesareia (Cf. HE III 25,1-5) considera-a um documento controvertido e S. Jerónimo (secs IV-V) coloca-a entre os escritos apócrifos.

A crítica moderna, e que se mantém ainda hoje, afirma que Barnabé não é o autor de Barn, em virtude de nela se repudiar, de forma muito dura, o AT. Além do mais, denota-se uma profunda diferença entre a doutrina de Paulo e as opiniões expressas na “Epistula”. Na verdade, Paulo reconheceu o AT como instituição divinamente ordenada. Ao contrário Barn refere-se a ele como “engano diabólico”(Cf. IX,4). Além disso, existem ainda razões históricas para negar a Barnabé a paternidade literária deste documento, já que o mesmo foi composto, com absoluta certeza, depois da destruição de Jerusalém (70 d.C), como se pode claramente comprovar pelo teor do capítulo XVI do mesmo documento. Por este motivo, é mais correcto designar, como autor deste tratado, um Pseudo-Barnabé .

Quanto ao local de composição, tudo indica que tenha sido Alexandria, devido à utilização do método alegórico utilizado na exegese dos textos bíblicos e tão característico dos teólogos daquele importante centro egípcio da antiguidade.

No que diz respeito à data de composição podemos salientar que o episódio da destruição do Templo de Jerusalém (70), mencionado na “Epistula”, permite-nos, de facto, fixar o “terminus post quem”. Todavia, no que diz respeito ao “terminus ante quem”, as opiniões são muito mais divergentes. De facto, teríamos uma margem enorme situada entre o ano 70 (data da primeira destruição do Templo) e o ano 135 (data da segunda destruição do Templo, durante a guerra de Barcocheba, no reinado do imperador Adriano). Se a obra foi redigida após esta insurreição, a data de composição rondaria, pois, esse mesmo ano ou, o mais tardar, o ano 138, como último do reinado do supradito imperador.
Drª. Teresa Pereira

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