terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

“Epistula” Barnabae: a herança do judeo-cristianismo.

Breve resumo doutrinal (cont.)

2- Estrutura e conteúdo
A obra encontra-se dividida em duas partes bem distintas: uma teórica (doutrinal) e outra prática (ético-moral).

1- A primeira parte, mais ampla, abrange os capítulos I-XVII. Nesta secção, o autor deseja, em primeiro lugar, expor e provar aos seus leitores o valor e o significado que a revelação do AT tem para os cristãos. Neste contexto, procura demonstrar que os judeus não entenderam muito bem a Lei, porque a interpretaram de forma literal. Depois de repudiar esta interpretação explica o que a seu entender representa o sentido espiritual genuíno da mesma. No capítulo I,5, o autor declara logo qual a intenção do seu escrito, com estas palavras: “Esforcei-me então para vos enviar estas poucas linhas, para que, além de vossa fé, tenhais também o conhecimento perfeito”.

Ora, é precisamente este “conhecimento perfeito” que ele pretende inculcar nos leitores e que consiste numa interpretação alegórica e tipológica do AT no que se refere a Cristo e aos cristãos. O autor está, pois, absolutamente convencido que a fé há-de levar a um conhecimento mais profundo e perfeito da verdade da Revelação. Por isso mesmo é que oferece como complemento da fé esse mesmo “conhecimento perfeito”.

Deus não quer o dom material de sacrifícios sangrentos, mas a oferenda de um coração arrependido. Não deseja a circuncisão da carne, mas a do nosso ouvido, a fim de que a nossa mente se incline para a verdade. Não insiste para que nos abstenhamos da carne de animais impuros, mas sim que renunciemos aos pecados simbolizados por esses animais (Cf. IX-X). No capítulo X, por exemplo, o porco aparece entre os animais proibidos porquanto existem homens que se parecem com ele, pois uma vez saciados esquecem-se de quem lhes deu o alimento. Do mesmo modo, a águia, o milhafre, o gavião e o corvo são animais proibidos na medida em que simbolizam, enquanto “figura” (tupós), todos aqueles que procuram obter o seu sustento através do roubo e de toda a espécie de acções iníquas, em vez de o alcançarem através de um trabalho honrado e com o suor do rosto. As palavras são textualmente estas: “Não te ligarás a esses homens que se assemelham aos porcos; isto é, que quando vivem na abundância, esquecem-se do Senhor, mas na necessidade reconhecem o Senhor. Assim é o porco: enquanto come não conhece o seu dono; mas quando está com fome grunhe e, tendo uma vez comido, volta a calar-se. Ele diz: "Também não comerás a águia, nem o gavião, nem o milhafre, nem o corvo." Isto é: não te ligarás, imitando-os, a esses homens que não sabem ganhar o alimento por meio do trabalho e do suor, mas que, na sua injustiça, arrebatam o bem alheio” (Barn X,3-4).

Na verdade, a primeira parte é toda ela marcadamente tipológica, pois o autor pretender justificar a nova revelação a partir da antiga, através de símbolos e alegorias.

2- A segunda parte (XVIII-XXI) ocupa-se, pois, das questões de ordem moral e aqui não se encontra nada de novo relativamente a escritos anteriores. O autor recolhe a catequese judaica das “Duas Vias”, também presente na Didaqué, como vimos atrás, nas quais descreve o caminho da vida e o caminho da morte (Barn XVIII). Ao primeiro designa Barn de “caminho de luz” e ao segundo “caminho de trevas”. Ao delinear a senda da luz oferece um número vasto de preceitos morais que recordam o decálogo (Cf. XIX). A passagem que trata do “caminho das trevas” consiste num catálogo de vícios e pecados (Cf. XX). O capítulo XXI é uma exortação final de sabor escatológico.

Depois desta breve apresentação da estrutura e conteúdo do documento, passemos, na próxima semana, à análise dos aspectos teológicos mais importantes do mesmo.
Drª. Teresa Pereira

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