quarta-feira, 3 de março de 2010

Preparando-nos para receber Bento XVI

A Cátedra de Pedro, dom de Cristo à sua Igreja

Numa recente entrevista, o Senhor Cardeal Saraiva Martins sintetizou assim a mensagem que encerra a visita do Papa Bento XVI a Portugal: «Com esta viagem, o Papa Bento XVI quer exprimir mais uma vez o seu afecto a Portugal. Ele, como cardeal, esteve aqui em Portugal, em Fátima, no Porto, conhece Portugal. Sou testemunha do grande afecto que ele tem pelo nosso país. Esta visita a Portugal é uma maneira de manifestar mais uma vez de forma concreta este grande afecto por Portugal. Naturalmente ele vem a Fátima. Sabemos muito bem que o Papa Bento XVI está intimamente ligado a Fátima, ele seguiu muito bem tudo isso, na publicação da terceira parte do segredo de Fátima. De maneira que é uma homenagem a Portugal e também a Fátima e é um modo de recordar a importância de Fátima e da sua mensagem para todo o mundo.» (in «Família Cristã», Janeiro 2010, pag. 43 e 44).

Os grandes acontecimentos não podem ser vividos de modo improvisado, mas devem merecer d todos nós aprofundamento e dedicação. Apesar do Santo Padre merecer muito mais e melhor, pois o gesto da sua vinda a Portugal reveste-se de uma enorme atenção e dedicação aos Portugueses, ofereço um modesto contributo, dedicando estes artigos, até a Visita Papal, ao conhecimento e aprofundamento do ministério petrino, a partir do próprio pensamento de Bento XVI. Vamo-nos servir de várias catequeses do Papa, sobre temas ligados ao seu serviço, na Igreja e utilizaremos a forma de entrevista, para aproximar mais a profundidade de pensamento do Papa Ratzinger aos nossos leitores. Quem desejar aprofundar melhor os temas, pode servir-se do livro «Bento XVI – Os Doze Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Jesus», Ed. Paulus 2008, que o próprio autor destes artigos preparou.

O tema deste artigo baseia-se na catequese de Bento XVI, pronunciada na Audiência Geral de Quarta Feira, 22 de Fevereiro de 2006.

1- Santo Padre, vamos percorrer com Vossa Santidade um caminho longo, com a finalidade de redescobrirmos com a ajuda do seu magistério o valor de que se revestem os Doze Apóstolos nesta Igreja «Una, Santa, Católica e Apostólica». Gostaríamos de iniciar este caminho a partir do seu Ministério de sucessor de Pedro. Sabemos que Roma é a sede do sucessor de Pedro, porém Pedro fez um percurso de vida para chegar até Roma. Ajude-nos a compreender os caminhos de Pedro.
Escolhido por Cristo como "rocha" sobre a qual edificar a Igreja (cf. Mt 16, 18), ele começou o seu ministério em Jerusalém, depois da Ascensão do Senhor e do Pentecostes. A primeira "sede" da Igreja foi o Cenáculo, e provavelmente naquela sala onde também Maria, a Mãe de Jesus, rezou juntamente com os discípulos para que fosse reservado um lugar especial a Simão Pedro. Em seguida, a sé de Pedro tornou-se Antioquia, cidade situada à margem do rio Oronte, na Síria, hoje na Turquia, naquela época terceira metrópole do império romano, depois de Roma e de Alexandria do Egipto. Daquela cidade, evangelizada por Barnabé e Paulo, onde "os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de "cristãos"" (Act 11, 26), onde, portanto, nasceu para nós o nome de cristãos, Pedro foi o primeiro Bispo, a tal ponto que o Martirológio Romano, antes da reforma do calendário, previa também uma celebração específica da Cátedra de Pedro em Antioquia. Dali, a Providência conduziu Pedro até Roma. Portanto, temos o caminho de Jerusalém, Igreja nascente, em Antioquia, primeiro centro da Igreja acolhida pelos pagãos e ainda unida com a Igreja proveniente dos Judeus. Depois Pedro dirigiu-se para Roma, centro do Império, símbolo do "Orbis" a "Urbs" que expressa o "Orbis" a terra onde ele terminou com o martírio a sua corrida ao serviço do Evangelho. Por isso a sede de Roma, que tinha recebido a maior honra, acolheu também o ónus confiado por Cristo a Pedro, de se colocar ao serviço de todas as Igrejas particulares, para a edificação e a unidade de todo o Povo de Deus.

2- Santo Padre, foi logo claro para todas as Igrejas que o Bispo de Roma era o sucessor de Pedro e que este tinha o ministério de Pastor Universal?
A sede de Roma, depois destas migrações de São Pedro, torna-se assim reconhecida como a do sucessor de Pedro, e a "cátedra" do seu Bispo representou a do Apóstolo encarregado por Cristo, de apascentar todo o seu rebanho. Testemunham-no os mais antigos Padres da Igreja, como por exemplo Santo Ireneu, Bispo de Lião, proveniente porém da Ásia Menor, que no seu tratado Contra as heresias descreve a Igreja de Roma como "a maior e a mais antiga, conhecida por todos; ...fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo"; e acrescenta: "Com esta Igreja, pela sua exímia superioridade, deve conciliar-se a Igreja universal, ou seja, os fiéis que estão em toda a parte (III, 3, 2-3). Tertuliano, um pouco mais tarde, por sua vez, afirma: "Como é feliz esta Igreja de Roma! Foram os próprios Apóstolos que derramaram nela, com o próprio sangue, toda a doutrina" (A prescrição dos hereges, 36). Portanto, a cátedra do Bispo de Roma representa não apenas o seu serviço à comunidade romana, mas a sua missão de guia de todo o Povo de Deus.

3- Podemos então dizer, Santo Padre, que a Cátedra de Pedro, ou seja, o seu serviço às Igrejas mais do que um sinal de poder é um grande dom de Deus e que se reveste de um grande significado espiritual?
Entre os numerosos testemunhos dos Padres, apraz-me evocar o de São Jerónimo, tirado de uma das suas epístolas escritas ao Bispo de Roma, particularmente interessante porque faz referência explícita precisamente à "cátedra" de Pedro, apresentando-a como segura meta de verdade e de paz. Assim escreve Jerónimo: "Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; agora venho pedir um alimento para a minha alma ali, onde outrora recebi a veste de Cristo. Não busco outro primado, a não ser o de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com a tua bem-aventurança, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja" (Cartas I, 15, 1-2).
P. Senra Coelho

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