terça-feira, 13 de abril de 2010

Pastor Hermae: a herança do judeo-cristianismo.

Breve resumo doutrinal - Introdução (cont.)

O “Pastor” de Hermas (Herm) é, sem dúvida, uma das mais fascinantes e surpreendentes de toda a literatura cristã dos primeiros séculos. Tida e utilizada durante gerações como texto sagrado e inspirado, gozou de uma estima especial e notoriedade na Igreja antiga. Trata-se de uma obra um pouco longa, composta por 114 capítulos, dispostos em três partes distintas: cinco Visões (Vis) , doze Mandamentos (Mand) e dez Parábolas (Sim).

A preocupação central do autor não se prende com questões de ordem doutrinário-dogmática, mas essencialmente com aspectos de ordem moral. O seu argumento principal é a necessidade de penitência como forma de alcançar a misericórdia divina.

Vamos hoje iniciar uma referência à questão do autor, data e local de composição .

As opiniões acerca da identidade de Hermas podem resumir-se em três grandes teses. Orígenes, bem como outros escritores antigos, como é o exemplo de S. Jerónimo, identificam Hermas com um discípulo de Paulo nomeado na Carta aos Romanos 16,14. Contudo, esta hipótese parece ser completamente improvável e até mesmo impossível, uma vez que, quando Hermas escreve, os apóstolos já tinham morrido todos, tal como ele mesmo nos faz saber em 93,5 . Uma outra opinião, baseada numa passagem da segunda Visão (8,3) identifica Hermas com um contemporâneo de Clemente de Roma e dos imperadores Domiciano e Nerva.

Todavia, com a descoberta do Canon ou Fragmento Muratoriano- datado do ano 180-200 e descoberto em 1740 por Ludovico Muratori, na Biblioteca Ambrosiana de Milão - as teses anteriores foram definitivamente abandonadas. Na verdade, este documento, composto em Roma na última década do sec. II, refere-se a Hermas como irmão do Papa Pio I (140-154), nos seguintes termos: “Nos nossos tempos, bastante recentemente, Hermas escreveu o Pastor na cidade de Roma, quando ocupava a cátedra da Igreja de Roma o bispo Pio, seu irmão; e, por isso, deve-se certamente lê-lo, mas não pode fazer-se dele leitura pública na igreja ao povo, nem [considerar-se] entre os profetas, completos no seu número, nem entre os apóstolos [vindos] no fim dos tempos” .

Por este e outros indícios externos , bem como pela descrição que o próprio autor faz do ambiente sócio–eclesial que o rodeia, podemos, pois, fixar como local de composição a cidade de Roma e a data deverá situar-se entre os anos 130 a 145.

A afirmação do Canon Muratoriano é, pois, bem clara ao afirmar que este documento não é bíblico e, portanto, não inspirado. Contudo, deve ter-se em conta o conteúdo doutrinal do mesmo, visto tratar-se de uma mensagem de índole apocalíptica e com preciosos ensinamentos e conselhos dirigidos particularmente à Igreja num período de grande convulsão e relaxamento internos.
Drª. Teresa Pereira

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