quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

PADRES DA IGREJA

IMPORTÂNCIA E ACTUALIDADE

A autoridade e importância dos Padres da Igreja e, consequentemente, a sua actualidade advêm do facto de serem, como afirma a “Instrução sobre o Estudo dos Padres da Igreja na Formação Sacerdotal” (IEP), «testemunhos privilegiados e garantes de uma autêntica tradição católica» (nº 23). Tradição esta que, desde os primórdios do Cristianismo, continua viva até aos dias de hoje.

Foram os Padres que delinearam as primeiras estruturas fundamentais da Igreja, particularmente os conteúdos doutrinais e pastorais que permanecem válidos para todos os tempos (Cf. IEP 18). Os seus escritos possuem uma riqueza apostólica que os torna grandes mestres da Igreja de ontem e de hoje (Cf. IEP 17).

Além disso, deve-se a eles a fixação do cânone da Sagrada Escritura bem como as profissões básicas da fé (regulae fidei). Estabeleceram as bases da disciplina canónica (traditiones patrum, statuta patrum) e criaram as formas da liturgia que permanecem como ponto de referência obrigatório para todas as reformas posteriores. Foram ainda os autores da primeira catequese cristã (Cf. IEP 20).

Mais do que tudo isto, há que ter em conta que a teologia cristã nasceu a partir da intensa actividade exegética e doutrinal dos Padres “in medio Ecclesiae”. Foram eles que sublinharam a compreensão da Escritura como Palavra de Deus, ao procurarem abarcar a totalidade do mistério cristão, seguindo o movimento fundamental da Revelação e da economia divina da salvação (Cf. IEP 27). Na verdade, o exemplo dos Padres pode servir de modelo aos exegetas actuais que procuram uma aproximação autenticamente religiosa da Sagrada Escritura e uma interpretação que atenda aos critérios de comunhão com a experiência da Igreja, no seu caminho através da história dirigida pelo Espírito Santo (Cf. IEP 26 e 56).

Conscientes do valor universal da Revelação, os Padres iniciaram a grande obra da inculturação cristã sendo, por isso, um claro exemplo do encon-tro fecundo entre a fé e a cultura, a fé a razão (Cf. IEP 32). Ao defenderem as verdades inerentes à essência da fé, foram os protagonistas de um enorme contributo e avanço no conhecimento dos conteúdos dogmáticos e continuam a prestar um valioso serviço ao progresso da Teologia (Cf. IEP 33).

Sendo os promotores do “intellectus fidei”, isto é, do método teológico da compreensão da fé, como parte essencial de uma teologia autêntica (Cf. IEP 34), os seus primeiros esboços teológicos evidenciam realmente algumas atitudes fundamentais perante os dados revelados, considerados como valores permanentes (Cf. IEP 36).

Em síntese, a actualidade e importância dos estudos patrísticos podem concentrar-se nos seguintes aspectos:

1- Determinação dos fundamentos da fé, expressa nos quatro primeiros concílios ecuménicos: Niceia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedónia (451);

2- Criação de novos conceitos e de uma linguagem propriamente “católica”, ainda hoje utilizada, dando à fé uma expressão e um discurso humano com as suas características peculiares;

3- Fixação do cânone escriturístico (NT);

4- Passagem da improvisação litúrgica a normas e modos estáveis de celebração (a partir da primeira metade do sec. IV), que ainda hoje se continua a praticar substancialmente;

5- Sentido da novidade e originalidade cristã, que se amplia e estende a todos os âmbitos da vida dos homens;

6- Concentração no “essencial”, ao contrário da reflexão escolástica posterior que, recheada de múltiplas questões periféricas, se distanciou directamente dos dados revelados. A época patrística conheceu e praticou aquilo que costumamos designar de “hierarquia das verdades da fé”, ao apelar e reconhecer tudo o que essencial para o cristão;

7- Elaboração de uma “teologia de busca” do Mistério. Os Padres possuíram, na verdade, um sentido vivo do mistério da encarnação e da Revelação, em geral. Neste sentido do mistério, a consciência que tiveram da transcendência de Deus levou-os a proferir uma teologia de símbolos, mais do que de conceitos. Dado que a valorização do símbolo, pelos Padres, se deu através do contacto que tiveram com a Sagrada Escritura exige-se, da nossa parte, uma predisposição para aprender e ler a Escritura segundo o espírito dos Padres, procurando assim o seu verdadeiro “sentido espiritual”;

8- O carácter pastoral da sua teologia, que não surge a partir de uma especulação de escola, mas que se afirma no seio de uma actividade marcadamente pastoral, procurando responder às exigências concretas da comunidade. Não é, pois, de estranhar que a teologia dos Padres fale a linguagem dos cristãos comuns e se desenvolva a partir de uma exigência pastoral concreta, intensamente reconhecida pelas comunidades às quais pertenceram.


Drª. Teresa Pereira

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