A Carta é, sem dúvida, um escrito colegial. Porém, a personalidade do autor e a sua actuação como porta-voz e líder das relações entre as duas comunidades não deixam, de facto, de implicar uma prova bastante evidente da génese e consolidação do chamado episcopado monárquico.
Já no primeiro capítulo, o autor começa por reconhecer que deveria ter prestado mais atenção às irregularidades existentes em Corinto (I,1), considerando, pois, um dever seu aconselhar a comunidade à busca da concórdia e da caridade: «Mas se alguns desobedeceram aos conselhos que por nós Ele vos dirigiu, saibam que incorrerão em falta e em não pequeno perigo. Quanto a nós, porém, seremos inocentes deste pecado» (LIX,1-2).
É certo que aqui o bispo de Roma fala de “conselhos” e, portanto, não de algo que tenha que ser obrigatoriamente cumprido por determinação de Roma. Contudo, afirma logo a seguir que a desobediência a tais “conselhos” ou determinações é motivo de grande falta e pecado.
Logo, este tom tão determinado e autoritativo (não autoritário) não se explica, de forma suficiente, pela mera existência de relações culturais estreitas e existentes entre Roma e Corinto. É que, além disso, Clemente está convencido que a exortação que dirige a uma outra comunidade encontra-se inspirada pelo Espírito Santo, pois «efectivamente alcançareis grande alegria, se obedientes ao que por nós foi escrito, por meio do Espírito Santo, cortardes pela raiz com a injusta cólera da vossa rivalidade, conforme a exortação à paz e harmonia que nesta carta vos fazemos» (LXIII,2).
De facto, os conselhos e/ou exortações pastorais do bispo de Roma convertem-se em matéria de obediência para a comunidade cristã de Corinto, facto esse que faz, sem dúvida, sobressair, em gérmen, o fundamento do primado romano.
Drª. Teresa Pereira
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