sexta-feira, 19 de junho de 2009

COMENTÁRIOS ÀS LEITURAS DO XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

PER VERBUM AD DEUM

A Liturgia do XII domingo do tempo comum ajuda-nos a conhecer melhor a identidade de Jesus e por sua vez a orientação fundamental do existir dos seus discípulos. E isso a partir do confronto de Jesus com a fúria do mar.

O mar impressiona sempre o homem pelo seu mistério, pela sua imensidão, pela sua fúria ameaçadora e indómita aquando açoitado pela tormenta. Esta impressão leva a vê-lo como símbolo do mal, das forças inimigas de Deus, destrutivas do seu reinado, ameaçadoras da integridade do homem, da sua relação amistosa com o Senhor do Universo.

A primeira Leitura, do Livro de Job, sublinha o senhorio do Deus de Israel sobre o mar. Como Criador do Universo, o mar não escapa ao seu domínio. Ele marca-lhe as fronteiras, impõe-lhe as leis, põe limites a sua arrogância. O mar é como uma criança nas mãos de Deus envolvido em fraldas de nuvens e nevoeiros.

Neste contexto compreende-se o sentido e alcance da tempestade acalmada por Jesus no lago conhecido como “o mar de Galileia”. Jesus manda aos seus discípulos “passar para à outra margem”, passar desta margem, a de Cafarnaum, da serenidade, do êxito e do triunfo, à margem da terra pagã. A esta passagem, um verdadeiro e novo êxodo, se opõem, como antigamente na saída do Egipto no Mar dos juncos, as forças do mal, inimigas, simbolizadas na tormenta e nas altas ondas que ameaçam afundar a barca, fazer perecer os discípulos. Estes deixam-se invadir do pânico. Clamam com as suas queixas a Jesus que parece indiferente diante da situação de máximo perigo.

Marcos quer ajudar aos discípulos a entender quem é Jesus. Este homem, a quem “o vento e o mar lhe obedecem”, manifesta o mesmo senhorio sobre o mar que o livro de Job atribuía a Deus, a mesma acção salvífica realizada por Deus que o Salmo responsorial canta. E, por tanto, também sobre todas as energias do mal que se opõem à existência e a missão dos discípulos. Assim fica afirmada a condição de Jesus como “igual a Deus”.

Ao mesmo tempo, o evangelista revela a atitude básica do discípulo de Jesus. Seguir a Jesus é, sempre e em todo caso, enfrentar uma existência turbulenta, atribulada. Facilmente o medo paralisa o seguidor quer na sua vida quer na sua acção e missão. Ainda que tudo possa parecer perdido, o discípulo sabe que Jesus é mais poderoso do que o mar, e por isso está seguro, confia n´Ele, e avança. Ainda se Jesus aparece como passivo, ausente, “dormido”, o crente sabe que está presente sempre, que actua, e que não há poder nem cósmico nem humano que possa impedir a sua viagem pelo mar tempestuoso da história.

A segunda leitura poder ser lida também sob esta luz, como a expressão máxima do senhorio de Jesus sobre a máxima expressão do poder do mar, o abismo da morte. Na morte de Cristo até a nossa morte é caminho triunfal para a “outra margem”, duma vida “entregue”, como a de Jesus, a Ele, por Ele e para Ele.

P. Luis Rubio

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