quarta-feira, 17 de junho de 2009

INÁCIO DE ANTIOQUIA (c. 110) E A UNIDADE E CATOLICIDADE DA IGREJA

(Introdução-1ª parte)

Vamos hoje iniciar uma breve reflexão sobre outro dos grandes Padres da Igreja e bispo de Antioquia - Santo Inácio.

Antioquia era uma das grandes metrópoles do Império Romano, a seguir a Roma e Alexandria. Situada no extremo oriental do Mediterrâneo, é uma cidade cosmopolita onde se entrecruzam, todas as raças e crenças. Aí vive também uma numerosa comunidade de judeus.

Depois do martírio de Estêvão, partem vários discípulos para Antioquia a fim de anunciar o Evangelho (Cf. Act 11,19), a que se segue Barnabé que toma a iniciativa de ir buscar Paulo a Tarso. Aí permanecem os dois a trabalhar em conjunto, durante um ano, dado o grande número de discípulos. Pedro esteve também nessa cidade.

Devido à sua importância cosmopolita e à evangelização apostólica nela efectuada, Antioquia tornou-se efectivamente um dos três grandes patriarcados, ao lado de Roma e Alexandria. Só a partir do Concílio de Niceia (325), com os novos patriarcados de Jerusalém e Constantinopla, se constitui a chamada Pentarquia, ponto de referência fulcral para a unidade da fé da Igreja.

Santo Inácio é, pois, o segundo bispo de Antioquia, sucessor de Evódio.

Iremos primeiramente fazer uma breve referência à sua pessoa e obra, para depois entrarmos nas questões relativas à transmissão e autenticidade dos seus escritos, ao contexto sócio eclesial que lhe deu origem e, finalmente, à estrutura e conteúdo das cartas inacianas.

Da vida de Inácio de Antioquia pouco se sabe. Natural da província da Síria, devia ter tido uma origem bastante modesta, provavelmente pagã. Quanto à sua cultura parece ninguém poder negá-la, pela utilização dos procedimentos da diatribe estóica e pelo conhecimento refinado que demonstra ter da retórica asiática. Na verdade, as Cartas que chegaram até nós reflectem uma forte personalidade espiritual e teológica. Ele próprio atribuí a si mesmo o sobrenome de Teóforo, ou seja, o “portador de Deus”.

Quem o teria ordenado bispo? Não se sabe ao certo. Eusébio de Cesareia (HE III, 36) fala de Inácio como bispo de Antioquia, cidade capital da província da Síria, durante o reinado do imperador Trajano (98-117). Narra ainda que foi enviado a Roma para ser executado (por volta do ano 110), não através de decapitação mas para ser lançado às feras. Desconhecem-se, porém, as circunstâncias e os pormenores do martírio.

Durante a sua viagem pela Ásia com destino a Roma, e sob a escolta de dez soldados, escreveu Cartas às igrejas que lhe mandavam delegações a saudá-lo, exortando assim as comunidades cristãs por onde passava a precaverem-se das heresias que começavam a pulular e, ao mesmo tempo, a manterem-se fiéis à tradição apostólica.

Parece ter tido, de facto, uma enorme influência na Igreja da Síria, pois quando chega a Esmirna, aguardavam-no, de facto, delegações das diversas comunidades cristãs dessa província. É precisamente em Esmirna que ele começa a redigir as suas Cartas que, por sua vez, foram levadas pelos membros dessas mesmas delegações às comunidades de origem. Aí redigiu a Carta aos cristãos de Éfeso (Eph), Magnésia (Magn), Trales (Tral) e Roma (Rom). Nesta última carta pede insistentemente que não procurassem livrá-lo do martírio.

As restantes foram redigidas em Trôade ou Troas e dirigiram-se às igrejas de Filadélfia (Phil) (Lydia) e Esmirna (Smyr) e uma de cunho mais pessoal dirigida ao bispo desta última: Policarpo (Pol). Três destas igrejas são referidas no Apocalipse (1,11): Éfeso, Esmirna e Filadélfia. Éfeso e Roma são comunidades a que já S. Paulo havia também escrito.

Drª. Teresa Pereira

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