terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CONSTRUIR-SE A SI MESMO

(continuação)

Como referi, na semana passada, o ser humano pode ser abordado em diferentes ópticas, de acordo com uma determinada definição da personalidade, ou seja, a partir de um sistema de hipóteses que constituem o marco de referência para explicar o comportamento e a experiência do homem. Apresento, hoje, as linhas gerais das teorias psicodinâmicas.

As teorias psicodinâmicas procedem dos métodos e teorias de Freud (1856-1939), fundador da psicanálise. A visão antropológica subjacente nesta teoria apresenta o homem como um ser em contínua tensão e em conflito inevitável entre gratificação do instinto e as exigências do ambiente exterior. Os dinamismos intra-psíquicos são a causa dos problemas do indivíduo. Freud compara a psiqué com um iceberg. A parte mais pequena que sobressai na água representa a zona da consciência, e a parte submersa o inconsciente. É no inconsciente onde se encontram os impulsos, as paixões, as ideias e os sentimentos recalcados que exercem um poderoso efeito nas necessidades e pensamentos conscientes do homem.

Para explicar as dinâmicas dos conflitos no interior do indivíduo, Freud identifica três componentes da personalidade: o id, o ego e o superego.

O id é a parte mais primitiva da personalidade, está presente desde o nascimento. É a fonte dos impulsos inconscientes. Tende a satisfazer as nossas necessidades e tenta a gratificação imediata. Actua a partir do princípio do prazer. Mas à medida que a criança se apercebe que algumas gratificações têm que ser adiadas, dá-se um conjunto de reacções para equilibrar a necessidade de satisfação do id com as exigências do mundo real. Este aspecto racional da personalidade surge devido a experiências frustrantes e tem como objectivo mediar entre as exigências do id e os limites da realidade. Começa, deste modo, a desenvolver-se o ego. O ego actua segundo o princípio da realidade. Ou seja, trata-se de satisfazer o id de uma forma adequada.

À medida que a criança vai crescendo começa a identificar-se com as normas morais dos pais e, através deles, da sociedade, e começa a desenvolver o super-ego. O seu objectivo principal é conseguir a perfeição e controlar o id.

Freud explica que as pulsões presentes no inconsciente têm carácter impulsivo - dinâmico e tendem a sair à consciência. Quando a consciência o impede há luta a nível do profundo, há conflito latente. O conflito vem pelo contraste entre duas grandes forças: a natureza passional e instintiva (princípio do prazer) e as exigências de adaptação ao ambiente social, contrárias ao instinto (princípio de realidade). Devido à presença destas duas forças, o homem encontra-se sempre em estado de ansiedade e tensão. O objectivo da vida humana consiste em reduzir a ansiedade. Freud apresenta três categorias do instinto: instinto sexual, instinto de conservação da vida e instinto de morte. Os instintos são os factores propulsores da personalidade. O homem procura evitar a ansiedade e para isso usa os mecanismos de defesa (projecção, racionalização, negação, isolamento, sublimação, etc.). O homem, segundo esta perspectiva, tem portanto um comportamento defensivo.

Na próxima semana teremos em conta as teorias do comportamento.

Irª. Fátima Semblano

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