Que estou a dizer? Que nos demitimos das nossas obrigações? – Sim! Depois da proclamação dos Direitos humanos em 1948, criou-se a ideia errada de que não há deveres, só direitos; e nós, de imediato, aferrolhámo-nos no castelo dos nossos “direitos, liberdades e garantias”; e alienámos, pondo em mãos alheias, o que é «nosso», o que nos compete por obrigação ética e de cidadania. Não só não nos importamos de ver atrofiada a nossa obrigação de educar como, desse modo, até nos sentimos livres, sem termos de nos sacrificar... e dá muito jeito ter sempre à mão um bode expiatório de costas largas contra o qual podemos dizer tudo quando o resultado não corresponde às nossas expectativas. Finalmente, exigimos ao Estado que nos cubra de subsídios. Desculpem-me a mania da procura semântica das palavras... mas qualquer «subsídio» devia ser interpretado no seu contexto linguístico, pois tem como base o «princípio da subsidiariedade». Este consiste no seguinte: tudo o que uma pessoa ou um grupo subalterno pode realizar por si mesmo não há-de ser objecto da intervenção e competência do organismo e autoridade superior, seja ele o Estado ou qualquer outro. Estes apenas deverão intervir na medida em que as pessoas, por si sós ou livremente organizadas, não consigam atingir os objectivos necessários à realização dos seus legítimos fins. Mas não terá de ser cumprido quando as pessoas, podendo, não querem participar! Trata-se de «subsídio» comparticipativo e não substitutivo!
O Estado é “pessoa de bem”, dizem os advogados e os políticos! Mas, no tocante à educação, nenhum cidadão sério pode concordar com tal aforismo, pois muitos projectos de educação nada têm a ver com os valores humanos em que se fundamenta a nossa cultura portuguesa. Há projectos educativos demasiado vesgos, oriundos de pessoa que «não é de bem», com a agravante de não serem acompanhados dos complementares critérios de escolha e de avaliação. E como a educação estatal se repercute nas Escolas, são também as famílias, em muitos sectores da sociedade, que, numa demissão absurda, carregam aos ombros dos professores e educadores o ónus de toda a educação, mesmo daquela de que elas são primária e directamente responsáveis. E sabemos que a sociedade – civil ou política – adquire as mesmas virtudes e os mesmos vícios que as comunidades familiares, pois não há sociedade sã, se as famílias não são sãs; não há dignidade cívica, se o civismo não existe nas famílias; não há consciência moral e cívica, se não há educação moral e cívica. Educação alienada!...
P. Madureira da Silva
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