sexta-feira, 27 de março de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO V DOMINGO DA QUARESMA

PER VERBUM AD DEUM

A liturgia deste quinto Domingo da Quaresma propõe-nos uma catequese centrada na aliança nova estabelecida por Deus com os homens em Cristo.

Na primeira leitura, o profeta Jeremias, numa situação em que parecia ter chegado o final da história para Israel, abre o coração do povo a um novo começo, a uma nova esperança. Israel, uma e outra vez rompe a aliança que Deus lhe tinha oferecido no Sinai. Essa ruptura provoca a destruição das estruturas – rei, templo, sacerdócio- sobre as que se assentava a sua vida, e até a da existência do povo, levado agora ao desterro.

Neste desespero total o profeta anuncia, em nome de Deus, uma aliança nova. Deus manifesta-se capaz e disposto a recomeçar a história, a refaze-la de maneira radicalmente nova, com uma aliança nova. Estabelecerá uma relação nova, não assente em compromissos sentidos como impostos desde o exterior, mas inserida no coração, o centro mais íntimo e profundo da pessoa, sede dos seus pensamentos e das suas decisões. Assim a relação será pessoal, cordial, tenra, esponsal. Dessa maneira o povo reconhecera o seu Deus com um conhecimento íntimo, sem necessidade de que ninguém desde fora lhe imponha o sugira o que deve fazer.

Esta aliança nova realiza-se em Jesus, e, Nele e por Ele, os homens todos somos convidados a entrar nela. Isto é o que de maneiras diferentes e complementares afirmam a segunda leitura e o evangelho.

Nos poucos versículos do sermão aos Hebreus, que aludem à oração de Jesus no Horto das Oliveiras, evocada também essa oração na angústia de que fala o evangelho de João, confirma-se a realização dessa aliança nova no coração reverente de Jesus, na sua obediência cordial. O seu coração, a sua inteligência, a sua vontade, aderem ao projecto de Deus de oferecer aos homens a “salvação eterna”, adesão que se manifesta na aceitação voluntária e decidida da sua “Hora”, a Hora da sua “elevação”, da sua “glorificação”, a hora em que a sua vida é enterrada como o grão de trigo. Porque é Filho, a sua adesão à vontade do Pai não é externa, imposta, é voluntária, pessoal, absoluta. Porque é Filho do homem, da nossa carne e sangue, nosso irmão, leva-nos consigo e por isso Nele o Pai contempla e acolhe a reverência, docilidade e obediência da humanidade toda.

A Aliança nova em Cristo passa aos homens, representados num grupo de gregos, pagãos, que pedem para “ver a Jesus”. Somos convidados também nós hoje a “procurar a Jesus” para entrar, como Ele e com Ele, na sua Hora, na aliança na Sua morte, a deixar-nos “atrair” por Ele quando O contemplamos “elevado sobre a terra” na cruz, a seguir o seu caminho de deixar-mos destruir, de morrer como o grão de trigo.

Pedimos que o Senhor transforme o nosso coração num “coração puro”, não contaminado, para poder compreender e aderir a essa aliança nova, e seguir a “filosofia de vida” de Jesus, que o leva a enterrar-se por amor como condição de fecundidade eterna para todos.

P. Luis Rubio

Sem comentários:

Enviar um comentário