sexta-feira, 29 de maio de 2009

COMENTÁRIO ÀS LEITURAS DO DOMINGO DE PENTECOSTES

PER VERBUM AD DEUM

A solenidade de Pentecostes conclui o tempo pascal e completa o mistério da Páscoa. É em verdade, como diz um ditado popular, a «Páscoa granada», dos frutos, depois da «Páscoa florida», das flores.

Pentecostes – os “cinquenta” dias após a Páscoa – era em Israel a festa que celebrava o fruto da aliança, o dom da Lei. O nosso Pentecostes celebra o fruto da Páscoa de Jesus, da sua morte e ressurreição, que é o Espírito Santo, o dom não duma lei, dum código ou umas normas para viver, mas sim o dom duma pessoa, o Espírito Santo, Senhor e dador de vida, que procede do Pai e do Filho, e que pelo Filho Jesus foi entregue no seu último suspiro na cruz (cfr. Jo 19,30), expressão e manifestação do seu Amor até a morte, Advogado da sua causa, intérprete da sua verdade.

Os Actos dos Apóstolos (Primeira leitura) apresenta a entrega do Espírito como efusão, como um vento impetuoso, uma espécie de trovoada ou terremoto que invade casas e cidades, como um fogo transformador que se expande e se faz palavra acesa, que se faz entender por todos, que unifica as gentes que a ambição dos homens tinha convertido numa Babel de dispersos, divididos, inimigos. A obra do Espírito Santo é, pois, a unificação da humanidade, a reconciliação dos separados.

O evangelho de S. João apresenta o Espírito não como vento ou ruído mas como o “alento” de Jesus, que lembra o “sopro” de Deus que fez a criação «no princípio» e insufla e infunde a vida no homem (cfr. Gn 1,1; 2,7). O Espírito, fruto da morte e ressurreição de Jesus, aparece como agente da vida divina no homem, duma nova criação, duma humanidade nova.

O Espírito em vez do medo que fecha as portas da casa, abre os corações e os lança para as ruas da cidade a proclamar a «boa notícia» do Pai de Jesus feito Amor; em vez de espíritos fechados nos próprios egoísmos e interesses – as diferentes línguas – os abre para acolher o diferente, para confiar nele; em vez de corações divididos, enfrentados pelo ódio e pela inimizade, realiza o perdão e a reconciliação; em vez da tendência a utilizar os dons para proveito próprio, move para a utilidade comum, para a edificação da comunidade eclesial (segunda Leitura); em vez de um horizonte fechado no mundo ou nas próprias razões, promove e a fé em Cristo, descobre a sua «verdade plena» (evangelho alternativo: Jo 15,26-27; 16, 12-15), abrindo o horizonte de Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; em vez duma vida movida e dominada pela carne, que caracteriza a sociedade mundana, o Espírito cria uma humanidade nova, uma «sociedade de contraste», movida e caracterizada pelo amor, a unidade, a paz, a alegria, a longanimidade, a mansidão, a benignidade, a bondade ( segunda leitura alternativa: Gal 5,16-26).

Com o Salmo, confessamos a acção do Espírito Santo e pedimos que o Espírito do Senhor, o seu Amor, renove a faz da terra, leve à perfeição a criação inteira, que, submetida à corrupção, suspira por ser introduzida «na liberdade da glória dos filhos de Deus» (cfr. Rom 8,21ss).
P. Luis Rubio

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