segunda-feira, 1 de junho de 2009

O QUE NÃO PODE O FILHO PODE A MÃE

Neste primeiro dia de Junho, iniciamos o mês consagrado ao Sagrado Coração de Jesus. Ontem encerrávamos o mês de Maio, consagrado à Virgem Maria. A estes motivos, somam-se as celebrações dos dias 16 e 17 passados por ocasião da erecção da estátua a Cristo Rei, em Almada, e a passagem pela geografia do país das relíquias de Santa Margarida Maria Alacoque, grande impulsionadora da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Concretamente, em Évora estiveram no dia 26.

Em ressumo, trata-se de acontecimentos relativos a Jesus (nos símbolos do ‘Rei’ e do ‘Coração’) e a sua Mãe, a Virgem Maria (na advocação, no nosso caso, de Nossa Senhora de Fátima).

Não participei presencialmente nas celebrações da comemoração dos 50 anos da erecção da estátua de Cristo Rei, que decorreram em Lisboa e Almada, com a presença de Nossa Senhora de Fátima. Acompanhei parcialmente por TV. Pude ver o seu esplendor e a beleza e as multidões que assistiram.

No Diário de Notícias do domingo, 17 de Maio, li uma carta aberta dalgum leitor do jornal, que se exprimia assim: “Queixa-se o reitor do santuário [de Cristo Rei] de que não há devoção e que os visitantes portugueses são poucos. Somos um país oficialmente católico, mas muito mariano e pouco cristão. Vi e li a descrição da linda coroa da Nossa Senhora e percebo porque não há devoção a Cristo. Durante muitos anos, a Igreja tem alimentado a devoção à Nossa Senhora e colocado a Deus-Filho num plano secundário. Agora vai fazer deslocar a imagem até ao santuário [de Cristo Rei], porque é a imagem [da Virgem] que move milhares”.

Todos os católicos medianamente formados sabemos que o lugar da Virgem Maria, na história da salvação, é subordinado ao de Jesus, único mediador entre Deus e os homens, único Redentor. Maria é criatura, humana; Jesus é Criador, divino. O culto que damos a Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – é de adoração; o que damos à Virgem Maria é de veneração, dum nível inferior. Esta é doutrina da Igreja, que todos conhecemos e pregamos.

Então, é censurável que um santuário mariano, Fátima, por exemplo, ou a imagem da Virgem de Fátima, atraiam e reúnam mais gente que quaisquer outros lugares de culto, incluídos os santuários consagrados a Nosso Senhor? Eu mesmo deveria censurar-me ter visitado tantas vezes Fátima sem nunca subir ao cerro de Cristo Rei, em Almada, tendo passado tantas vezes ao pé? É a Igreja que deveria, coercitivamente, impedir que tal sucedesse?

Para mim, que não, por dois géneros de razões, que explicam e legitimam este facto. Está, em primeiro lugar, o que poderíamos considerar de razão teológica ou doutrinal e, depois, estariam as razões ou motivos afectivos ou psicológicos.

A razão teológica é que todo culto e devoção à Mãe vão também para o Filho, e pelo Filho, no Espírito Santo, para Deus Pai. Isto está maravilhosamente exprimido na conhecida máxima da espiritualidade mariana: “Tudo a Jesus por Maria; tudo a Maria para Jesus”. Assim pois, todos os que honram a Nossa Senhora de Fátima, honram também a Jesus. Não há concorrência entre Mãe y Filho; mas sinergia e complementaridade. Todos esses milhares atraídos pela imagem de Nossa Senhora de Fátima são levados por Ela à Jesus. Se Maria é “a que mostra o caminho para Jesus, a que leva a gente para Jesus”, não veio qualquer problema.

Haverá gente que fique em Maria sem querer avançar para Jesus? Se isso acontecer, seria mais um problema de fraca formação que de expressa intenção, o que não é de estranhar.

Os motivos de índole afectiva e psicológica dimanam da nossa condição humana, do facto de sermos assim, de termos este feitio e não outro. Parece-me que o que quero dizer, independentemente da importância objectiva das pessoas e da igual dignidade dos sexos, torna-se compreensível com a simples formulação dalgumas perguntas.

Quem atrai mais: a mulher ou o homem? O pai ou a mãe? Quando estamos a chorar por tristes, aflitos ou doentes, onde procuramos o aconchego? Quando erramos, faltamos ou nos vemos submergidos na lama, a quem procuramos primeiro: o pai ou a mãe?

O autor da carta que citei no início, provavelmente feminista, censurará a Igreja também de anti-feminista…

A Igreja, olhando com ternura, compreensão e compaixão os seus filhos que acodem à “capelinha” de Fátima, à Aparecida, à Vila de Guadalupe, etc., com o coração partido, não os encaminha primeiro para Jesus, para que depois voltem a Maria. A Igreja está convencida que é a própria Virgem Maria que, carregando-os nos seus braços, os apresenta a seu Filho Jesus, para que Este, pelo Espírito Santo, os leve ao Pai.

Na Conceição católica da fé trinitária, a Virgem Maria, segura o primado afectivo do “princípio mariano ou feminino”, por muito que possa pesar aos homens, especialmente aos que criticam de anti-feminista à Igreja, que não confere o sacramento da ordem às mulheres por fidelidade ao “princípio masculino” da sua fé.

E nem por isso a mulher é superior ao homem ou o homem superior à mulher. Homens e mulheres temos igual dignidade nas diferencias que nos caracterizam.

Agradeço ao autor da carta citada, que me deu a oportunidade de fazer primeiramente para mi mesmo estas reflexões, que também, com muito agrado, compartilho convosco, meus caros leitores.

P. Vicente Nieto

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