segunda-feira, 25 de maio de 2009

REINVENTAR A SOLIDARIEDADE

No dia 15 de Maio passado participei no Simpósio promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa, sob o tema: “Reinventar a solidariedade”. Juntamo-nos no Centro de Congressos de Lisboa um bom grupo de bispos e mais de 1.100 participantes, para além de excelentes conferencistas e experientes intervenientes nos painéis.

A CEP promoveu este Simpósio como gesto significativo de alerta, formação de consciências e mobilização perante a crise que padecemos. Desta vez, os bispos de Portugal, em vez de redigirem um documento, fizeram esta escolha. E acertaram.

Não pretendo, nesta minha partilha semanal convosco, leitores, contar o que lá aconteceu. Com certeza que serão oportunamente publicadas as actas do Simpósio. Nelas encontrarão tudo.

A minha intenção agora é partilhar o que mais me chamou a atenção, entre tantas coisas ouvidas.

Em primeiro lugar, que a crise que estamos a viver não podemos focá-la exclusivamente com critérios economicistas, materiais. É crise económica, mas é também crise cultural, política, moral e espiritual. É uma gravíssima crise de valores. É também neste húmus profundo que a crise encontra a sua génese e etiologia. É por isso que a solução da crise não se logrará simplesmente gerando liquidez para o crédito ou resolvendo exclusivamente o lado económico da situação.

Outra ideia fecunda que lá se focou repetidas vezes: sermos capazes de interpretar e gerir a crise também como uma grande oportunidade, como kairós, em terminologia bíblica. Que chamadas estará Deus a nos dirigir para a nossa transformação como pessoas e sociedade? A sociedade, as organizações comunitárias, os sistemas económicos, a política, a mesma Igreja, que saiam da crise não podem ser o mesmo que eram antes da crise.

Todos somos responsáveis pela crise, como todos devemos ser solidários durante e depois da crise. Com certeza que nem todos somos igualmente responsáveis pela crise, nem todos podemos ser igualmente solidários na sua resolução. Mas ninguém pode ficar de braços cruzados. Inclusive num plano pessoal, deves fazer o que estiver na tua possibilidade. Isso será muito pouco; mas esse pouco, bem feito, dará sentido a tua vida.

Gostei especialmente das palavras de encerramento do Sr. Patriarca de Lisboa, Dom Policarpo. Frisou que as grandes crises na história moderna implicaram sempre novas tomadas de consciência na sociedade, que motivaram também as grandes mudanças. Eis as tomadas de consciência mais notáveis dos dois últimos séculos: a tomada de consciência da subjectividade e do valor da pessoa individual (no século das luzes e como reacção aos totalitarismos do século passado); a tomada de consciência do valor do trabalhador e do trabalho (na revolução industrial); a tomada de consciência da paz e do diálogo para resolver os conflitos (após as duas guerra mundiais); e nas últimas décadas a tomada de consciência ecológica e a tomada de consciência da globalização.

Esta última tomada de consciência do mundo como aldeia global leva-nos a pensar que a mesa do mundo é para todos e que, ou jogamos todos, ou quebramos o baralho. A universalidade e globalidade da nossa oikumene ou casa comum subjazem à crise que estamos a viver e ao mesmo tempo apontam a boa direcção por onde devemos caminhar para encontrarmos as soluções.

Que devemos fazer? Que é o que eu pessoalmente devo fazer? Eis a questão. Só por levantar estas interrogações – sinais inequívocos de conversão – já valeu a pena o Simpósio. A minha gratidão à CEP e a todos os que tornaram possível o Simpósio.

P. Vicente Nieto

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