quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pio XII e a II Guerra Mundial

III

PIO XII E OS HEBREUS NOS CAMPOS DE EXTERMÌNIO

BISPOS DA ALEMANHA


Mons. Walter Adolph, Vigário Geral da Diocese de Berlim, afirma que Pio XII escreveu pessoalmente ao Cardeal de Berlim, Conrad Von Preysing, a 30 de Abril de 1943 encorajando-o a ele e aos seus sacerdotes a permanecerem no protesto contra o extermínio dos Judeus pelo Nazismo. Diz Pio XII. «Estamos-te gratos, caro Irmão, pelas claras e francas palavras com que te exprimiste diversas ocasiões diante da comunidade dos teus fiéis, e por isso mesmo diante da opinião pública; referimo-nos às tuas afirmações de 28 de Julho de 1942, sobre a concepção cristã da Justiça e do Direito, ao teu discurso de Totensonntag Domingo de Defuntos no ultimo mês de Novembro, sobre o fundamental direito do homem à vida e ao amor; referimo-nos também e sobretudo à tua Carta Pastoral do Advento de 1942, dirigida à Provincia da Alemanha Ocidental, sobre os direitos soberanos de Deus, os direitos dos indivíduos, os direitos da família». (…) «Deixamos aos pastores em funções no próprio local o cuidado de avaliarem se e em que medida é preciso usar de reserva, não obstante as razões que teriam para intervir, para evitar maiores males, dado que as declarações dos Bispos correm o risco de provocar represálias e pressões, e tendo em conta outras circunstâncias devidas talvez à duração e à psicologia da guerra. Este é um dos motivos pelos quais Nós próprios nos limitamos nas Nossas declarações.»[1]

O testemunho dirigido ao dirigente dos S.S. – Knochen, no início do Verão de 1943, demonstra bem como os Alemães sabiam que os protestos dos Bispos locais eram conduzidos estratégicamente pelo Vaticano de Pio XII. Diz o documento: «Uma nefasta propaganda está tentando usufruir das diferenças dos pontos de vista existentes entre o governo Alemão e o Italiano, no que diz respeito à solução da questão Hebraica. Essa propaganda baseia-se sobre o seguinte argumento: em primeiro lugar o "Valore" das medidas adoptadas; e em segundo lugar, as suas concepções cristãs e católicas, como é inspirado pelo Vaticano»[2].

Foi tal o sofrimento das Igrejas locais, que Pio XII teve que enviar aos Bispos uma orientação para discernirem qual o "mal menor": «Deixamos aos Bispos locais avaliar as circunstâncias e decidirem se mantêm o silêncio, ou não, “ad maiora mala vitanda”, para assim se evitar males maiores. Isto seria evidente, se em caso de declarações públicas da parte dos Bispos, se apresentasse como eminente o perigo das medidas de distorção ou coação por parte dos Nazis. Esta é uma das razões pelas quais nós mesmos limitamos as nossas intervenções públicas. A experiência de 1942, quando publicámos os documentos para distribuir aos fiéis, justifica a nossa posição, porquanto conseguimos entender a situação actual»[3].

Pio XII percebeu que a Europa precisava da Igreja, naquele momento duro de guerra, junto aos grandes sofredores. Seria de fácil evidência perceber que não era hora de discursos, mas de acção. Os discursos piorariam a possibilidade de acção, colocando a Igreja em situação também de perseguida, retirando-lhe por consequência todas as possibilidades de actuação em favor dos direitos humanos. A Igreja contava já com muitas afirmações doutrinárias sobre os princípios éticos e humanos, em abundância e com clareza.

A este propósito afirmou Pio XII: «[…] O Nosso coração responde com uma solicitude previdente e comovida aos pedidos daqueles que voltam para Nós um olhar de ansiosa imploração, atormentados como estão, por causa da sua nacionalidade ou da sua raça, pelas maiores desgraças, pelas dores mais penetrantes e pesadas, e entregues, mesmo sem culpa da sua parte, a medidas de extermínio […]. Não esperais, certamente, que vos exponha agora aqui, mesmo que parcialmente, tudo o que temos tentado e experimentado fazer para diminuir os seus sofrimentos, para suavizar a sua situação moral e jurídica, para defender os seus direitos religiosos imprescindíveis, para socorrer a sua angústia e as suas necessidades. Toda a palavra da Nossa parte, dirigida a este propósito às autoridades competentes, toda a alusão pública deviam, da Nossa parte, ser seriamente pesadas e medidas, no próprio interesse daqueles que sofrem, para não lhes tornar, contra a Nossa vontade, a situação ainda mais grave e insuportável.»[4]

P. Senra Coelho

[1]W. ADOLPH, Hochhuths Fanatisches Vourteil, in Deutsche Tagespost, 12 de Março de 1963, cit. Joseph L. LITCHEN, Pio XII e gli Ebrei, op. cit., pag. 56.
[2]Cf. L. POLIAKOV e J. SABILLE, Jews Under the Italian Ocupation, Editions du Centre, 1955, pag. 96.
[3]Cf. Tablet, Londres, 16 de Março de 1963, cit. in Joseph L. LICHTEN, Pio XII e gli Ebrei, op. cit., pag. 57.
[4]Alocução de Pio XII no Cólegio cardinalício, 2 de Junho de 1943.

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