terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

“Epistula” Barnabae: a herança do judeo-cristianismo.

Breve resumo doutrinal (cont.)

3 - Cristologia:
Barn proclama, primeiro, a preexistência de Cristo. Ele estava com Deus Pai e foi a Ele que “Deus disse desde a criação do mundo: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança', quando este criou o universo” (Barn V,5).

O mistério da encarnação é belamente interpretado a partir da alegoria do sol, tão popular na teologia alexandrina: “Com efeito, se não tivesse encarnado, como é que os homens poderiam ter sido salvos ao vê-lo, uma vez que eles não podem levantar os olhos para olhar de frente os raios do sol, que todavia um dia deixará de existir e que é tão-somente obra de suas mãos?” (V,10). Foram duas as causas da encarnação. Primeiramente “se o Filho de Deus encarnou, foi para redimir os pecados daqueles que tinham perseguido mortalmente os seus profetas. Logo, para esse fim é que ele sofreu. De facto, diz Deus que é deles que vem a ferida da sua carne: ‘Quando ferirem o seu pastor, então as ovelhas do rebanho perecerão’." (V,11-12). Em segundo lugar, “foi Ele, porém, que quis sofrer desse modo. Com efeito, era preciso que Ele sofresse sobre o madeiro, pois assim diz o profeta a seu respeito: "Poupa a minha vida à espada." E "trespassa com cravo a minha carne, porque uma assembleia de malfeitores levantou-se contra mim." E diz ainda: "Eis que ofereci as minhas costas aos açoites e a minha face para as bofetadas. Contudo, mantive o meu rosto como pedra dura." (V,13-14).

Como se pode deduzir, o mistério da encarnação encontra-se estreitamente ligado com o da paixão e morte de Cristo (mistério pascal). O primeiro destina-se e consuma-se no segundo e este só se compreende à luz daquele.

De facto, o capítulo V é todo ele cristológico! Como os textos falam por si, fiquemo-nos apenas com os seguintes excertos: “O Senhor sofreu para nos purificar dos pecados. O Senhor suportou entregar a sua própria carne à destruição, para que fôssemos purificados pelo perdão dos nossos pecados, isto é, pela aspersão feita com o seu sangue. A respeito dele, a Escritura diz o seguinte sobre Israel e sobre nós: "Ele foi ferido por causa de nossas iniquidades e maltratado por causa de nossos pecados, e nós fomos curados pelas suas chagas. Foi conduzido como ovelha ao matadouro e, como cordeiro, ficou mudo diante do tosquiador." (V,1-2). "Se o Senhor suportou sofrer por nós, embora fosse o Senhor do mundo inteiro [...], como pôde ele aceitar sofrer pela mão dos homens? Aprendei. Os profetas, que tinham a sua graça, profetizaram a seu respeito. E ele, a fim de destruir a morte e mostrar a ressurreição dos mortos, teve que encarnar e sofrer, a fim de cumprir a promessa feita aos pais e preparar para si o povo novo e demonstrar, durante a sua permanência na terra, que era Ele mesmo que julgaria, depois de haver realizado a ressurreição (V,5-7).
Drª. Teresa Pereira

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