terça-feira, 8 de junho de 2010

Pastor Hermae: a herança do judeo-cristianismo

Breve resumo doutrinal. Estrutura e conteúdo.

- Sexta Parábola: o Anjo da volúpia e o Anjo do castigo. O primeiro aparece nas vestes de um pastor jovem e atraente que conduz as ovelhas à corrupção e à morte. O segundo, de aspecto pouco atraente, reúne as ovelhas feridas para as curar, servindo-se dos sofrimentos do dia a dia como remédio.

- Sétima Parábola: nesta Parábola, Hermas pede ao “pastor” que afaste o “Anjo do castigo” de sua casa. Deve, no entanto, suportá-lo pacientemente, por mais algum tempo, pois perseverando na justiça e nos preceitos do Senhor, ele e toda a sua família serão libertados de tais ameaças.

- Oitava Parábola: o salgueiro. Devido à sua vivacidade e capacidade de reflorescer sempre, mesmo quando os seus ramos são cortados, o salgueiro é a imagem interessante da eficácia da penitência que faz renascer no crente a graça de uma vida nova. A partir desta imagem, Hermas distingue treze categorias de cristãos: “- Senhor, disse-lhe eu, explica-me que árvore é esta, pois sinto-me perplexo com ela, porque, depois de tantos ramos cortados, a árvore está sã e não parece que dela tivesse sido cortada alguma coisa.- Escuta, disse ele, esta grande árvore que estende a sua sombra por planícies, montanhas e toda a terra, é a lei que Deus deu ao mundo inteiro. Esta lei é o Filho de Deus, que foi anunciado até aos confins da terra. Os povos que estão à sombra da árvore são os que ouviram o anúncio e acreditaram n’Ele. [...] Mas vês os ramos de cada um? Os ramos de cada um são, pois, a lei. Vês, portanto, muitos ramos inutilizados e saberás que todos estes são os que não observaram a lei. Também verás a morada de cada um.” (69,1-2; 4).

- Nona Parábola: a construção da torre. Esta impressionante parábola constitui o “coração” da eclesiologia do nosso autor. A torre em edificação é o eloquente símbolo da Igreja, a qual se vai construindo sobre uma rocha, ou seja, sobre o Filho de Deus que lhe serve de alicerce. As pedras para a construção são recolhidas ora das águas, ora das doze montanhas e outras ainda da planície. Todas estas pedras são inseridas na construção sob a supervisão do Filho de Deus que rejeita as pedras defeituosas que, por sua vez, são entregues ao “Anjo da Penitência” para serem retocadas. As pedras que foram retocadas são, finalmente, usadas na construção e a outras rejeitadas de forma definitiva. Encontra-se aqui uma alusão deveras curiosa ao sentido das vestes baptismais, as quais não podem ser rasgadas ou maltratadas, ou seja, o cristão deverá procurar manter sempre íntegra, ao longo de toda a sua vida, a sua dignidade de baptizado, mantendo por sua vez a “brancura” das suas vestes: “- Mas, que significa a torre, perguntei?- Esta torre é a Igreja, disse ele- . E quem são estas virgens?- São os espíritos santos, disse ele. E doutro modo não pode o homem encontrar-se no reino de Deus, se estas não o revestirem da sua indumentária. Pois, se apenas receberes o Nome do Senhor , mas não revestires a sua indumentária, nada te aproveitará. Efectivamente, estas virgens são as virtudes do Filho de Deus. Se, pois, trouxeres o Nome de Deus, mas não trouxeres a sua virtude, em vão trarás o seu Nome. As pedras que viste, disse, e foram rejeitadas, essas, trouxeram o seu Nome, mas não se revestiram da indumentária das virgens.- Que espécie de indumentária, Senhor, perguntei eu, é a delas?- Esses nomes, disse, são a sua indumentária. Todo aquele que trouxer o Nome do Filho de Deus, também deve trazer os nomes destas, pois até o próprio Filho traz consigo os nomes destas. Todas as pedras que viste entrar na construção da torre, entregues pelas suas mãos [do Filho de Deus] e permanecer na construção, são os que estão revestidos da virtude destas virgens. É por isso que vês que a torre formou com um rochedo um monólito. Assim também os que acreditaram no Senhor pelo seu Filho e se revestiram destes espíritos encontrar-se-ão num único espírito, num único corpo e com uma única cor da sua veste. A habitação desses tais que trazem os nomes das virgens é a torre” (90,1-5).

- Décima Parábola: nesta Parábola, que constitui a conclusão de toda a obra, o Filho de Deus confia a Hermas e à comunidade cristã uma série de recomendações finais e este é admoestado, uma vez mais, por um Anjo, a fa-zer penitência para preservar a sua família de todo o mal e, ao mesmo tempo, a exortar o mundo inteiro a essa mesma penitência.
Drª. Teresa Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário