terça-feira, 29 de junho de 2010

Pastor Hermae: a herança do judeo-cristianismo

Breve resumo doutrinal. Estrutura e conteúdo.

3- Igreja e penitência pós-baptismal : Herm é, sem dúvida, a principal fonte de informação que dispomos acerca da penitência pós-baptismal na Igreja no período pós-apostólico.

Não só Herm como também outros escritos cristãos, cronologicamente anteriores a ele, fazem pressupor a existência de uma segunda e última penitência para baptizados. Trata-se, no entanto, sempre de referências pouco explícitas que denunciam a compreensível indefinição que terá caracterizado a doutrina e prática penitencial das comunidades dos primeiros tempos. Deste modo, mais do que querermos encontrar uma teologia penitencial muito profunda neste leigo empenhado nos negócios e no difícil governo da sua casa, encontramos, sim, uma doutrina prática que reflecte já uma experiência eclesial e apresenta a resposta a uma questão que permanecia, de algum modo, aberta e que se prendia de facto com o problema da penitência depois do baptismo, tão recusada por “alguns”: “Senhor [ disse Hermas] ouvi dizer a alguns mestres que não há outra penitência senão aquela que nos é dada quando descemos à água e recebemos a remissão dos nossos pecados passados. Entendeste bem, disse-me, pois é assim: quem recebeu o perdão dos pecados nunca mais devia pecar mas permanecer na pureza de vida “ (31,1-2).

Na verdade, desde muito cedo, que o cristianismo se debateu com tendências rigoristas neste campo, ou seja, depois da recepção do sacramento do baptismo, não se deveria pecar e, caso fosse cometido pecado grave, não havia “direito” à penitência. Tais tendências encontrâ-mo-las já latentes na Carta aos Hebreus 6,4-8.

Estas interpretações restritivas levavam, de facto, muitos cristãos a desesperar da conversão e a abandonar-se a uma vida mundana. Ora, é precisamente a estes que “O Pastor” dirige uma mensagem de esperança e um apelo urgente à penitência: “Acreditai pois em Deus, vós que por causa de vossos pecados, desesperastes da vida, aderistes ao pecado e sobrecarregastes a vossa vida, pois, se vos converterdes ao Senhor de todo o vosso coração, praticardes a justiça e o servirdes rectamente segundo a sua vontade por todo o tempo da vida, Ele curará os vossos pecados passados e tereis força para dominar as obras do diabo” (49,2). Além disso, Hermas não se cansa de recordar a indulgência de Deus que ” não é como os homens, já que os homens são ressentidos: mas Ele esquece as injúrias e compadece-se da sua criatura” (29,3). De facto, já na segunda Visão, a Igreja garante a Hermas o perdão de todos os pecados antes cometidos a todos os que se arrependerem verdadeiramente (Cf. 6,4-5).
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Segundo a interessante reflexão de “O Pastor”, a Igreja é, sem dúvida, o povo alimentado por esta esperança escatológica do bom tempo das colheitas. Ela que fora “criada antes de todas as coisas” e em função da qual o mundo foi criado (Cf. 8,1; 1,6) assume-se, pois, como realidade em permanente construção e caminhada para uma consumação definitiva.

Embora já neste mundo deva dar fruto através dos seus membros, a colheita será somente no fim: “Tu, pois, dá fruto para que o teu fruto seja reconhecido naquele verão” (53,5). Daí que se compreendam, pois, as diferentes manifestações da Igreja sob a figura de uma mulher: primeiro, sob a forma de uma mulher idosa e, progressivamente, rejuvenescida. Tal rejuvenescimento verifica-se à medida que os seus membros se vão santificando e, portanto, “radicando” sobre a pedra branca que é Cristo.

Que magnífica e actual mensagem para nós cristãos do sec. XXI !

Drª. Teresa Pereira

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