quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Convento do Calvário de Évora na História

Exemplo de Fidelidade e Vida Evangélica
PARTE III

Enquanto as comunidades conventuais, ou claustrais viviam a pobreza de modo mitigando, apoiando-se nas dispensas papais da pobreza radical, as comunidades observantes eram adeptas de um rigorismo absoluto no referente à compreensão da pobreza e da aceitação de doações e recebimentos de rendas.

Em Portugal, o primeiro Convento que adoptou a corrente observante mais rigorosa na vivência da pobreza evangélica foi o Convento da Conceição de Beja, em 1489.

A recuperação da «Primeira Regra» de Santa Clara (1253), na qual estavam proibidas as rendas e os dotes, concretizou-se através da «Reforma de Santa Colecta» (1381-1447), cuja primeira adesão em Portugal aconteceu ainda no século XV, através do Mosteiro de Jesus em Setúbal, que fundado em 17/06/1489, foi povoado em 1495 por sete clarissas vindas do Convento Coletino de Gandia, na região de Valência, em Espanha, o qual obteve do Papa Alexandre VI (1491-1503) uma bula que institucionalizava a Primeira Regra de Santa Clara.

A segunda casa religiosa fundada, em Portugal, debaixo da «Primeira Regra» de Sta. Clara foi o Convento da Madre de Deus de Xabregas, em Lisboa, no ano de 1508. Para aí se deslocaram em 1509, sete clarissas vindas do Convento de Jesus de Setúbal.

De facto, foi Santa Coleta a protagonista de um grande movimento de renovação. Em 1406 abandonou o mosteiro onde vivia e professou a Regra de Sta. Clara nas mãos do Papa Bonifácio XIII, recebendo dele a incumbência de reformar as três Ordens de S. Francisco. Quando morreu, em 1447, deixou mais de 20 mosteiros reformados sob a «Primeira Regra» e as Constituições que ela própria redigiu. Este movimento reformador estendeu-se por toda a Europa. Tal reforma valorizou a união fraterna e o capítulo semanal, ordenando ainda que em todas as comunidades houvesse biblioteca e bons livros.

No séc. XVI, com a reforma capuchinha, apareceu outro movimento reformador entre as Clarissas. Foi protagonista a Irmã Maria Lorenza Longo. Em 1535 fundou um mosteiro em Nápoles, Itália, professando a Regra de Sta. Clara e as Constituições de Santa Coleta. A partir de Nápoles outros mosteiros se fundaram com o mesmo ideal, ficando ligados espiritualmente aos Frades Menores Capuchinhos. A reforma capuchinha teve como fruto nacional, a fundação, em 1519, do Convento de N. Sra. da Assunção de Faro. Foi ele o primeiro destinado em Portugal a freiras capuchas, cuja reforma surgiu, no nosso país, em 1538, dando origem às Clarissas ditas Capuchas ou Capuchinhas. Em 1541 entraram no edifício conventual algarvio as primeiras freiras que vieram da Madre de Deus de Lisboa e seguiam a I Regra de Sta. Clara.

Mais uma vez, os factos históricos contradizem as leituras ideológicas da História, as quais generalizam excepções, a fim a absolutizar postelados fundamentalistas e levar a efeito o seu itinerário de imposições.

Foi assim, que muitos continuam a justificar os atropelos contra a liberdade religiosa que significava a extinção da Ordem Religiosa em Portugal, no ano 1834.
P. Senra Coelho

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