quinta-feira, 10 de junho de 2010

Somos uns pândegos!

Para resolver o problema do mal, os pensadores racionalistas, os cientistas e todos os que ideologicamente comungam do mesmo agnosticismo e ateísmo, entenderam que era necessário negar a existência de Deus. Deus não é compatível com a existência do mal! E assim retiraram Deus da corrida. Sem Deus na corrida, sobrava o homem! E agora digo eu: Se Deus não pode ser o culpado da existência do mal (porque foi retirado da corrida) então o culpado tem de ser o homem! Mas qual quê! O homem culpado? Que piada tem isso? Não senhor. A culpa é da natureza! – E em vez da confrontação com Deus, o mundo moderno colocou-se estrategicamente à margem do problema, pôs Deus de fora e atribuiu a culpa à natureza. E assim se alijou o problema, pois a natureza está privada de objectivos, é dominada pelo acaso e pela necessidade, é indiferente aos desejos, é o campo da luta pela existência, da lei da sobrevivência do mais forte e do mais apto, tem as suas próprias leis imutáveis. E o único modo para agir sobre ela é conhecê-la, para depois, com a técnica, forçá-la a fazer aquilo que mais interessa. Consequência: não há explicação para o mal. Tanta pressa em negar Deus, tanta azáfama em livrar o homem de responsabilidades, tanta ilustração a pôr o acento na natureza... e o problema continua, quer seja com Deus, quer seja sem Deus.

O mal continua a ser uma dura realidade, com milhares de tentáculos. Todos o sentimos nas suas múltiplas formas de presença concreta. O mal tornou-se um problema sem solução. Perderam-se todas as respostas e todas as esperanças de resposta. E eu continuo a verificar que, mesmo que se negue Deus e se enalteça a bondade e capacidade do homem, mesmo que se justifiquem todos os atropelos e se negue o pecado, mesmo que se aceitem todas as libertinagens e se desculpabilize a maldade, nem por isso o problema do mal deixa de ser problema. Nos nossos dias, o mal, que antes era uma objecção contra Deus, converteu-se numa objecção contra o homem, apesar de os teóricos refutarem esta asserção. Dou-me conta disso na super-culpabilidade apregoada e na super-responsabilidade negada da nossa época. As clínicas e os consultórios de Psicologia e de Psiquiatria são cada vez mais numerosos e não lhes faltam clientes. Exponencialmente explodem culpabilizações por todo o lado, todas de ordem psíquica, sem responsabilidades reais! Também as respostas esotéricas estão na berra. As consciências estão desorientadas. Como a morte de Deus deixou o homem só, resta-lhe a alternativa de se revoltar contra si, num processo de que ele mesmo é a vítima, o acusado e o acusador. Somos uns pândegos!

No século XX o sonho de diminuir o mal no mundo acabou arruinado. A Europa assistiu a duas guerras mundiais medonhas, aos totalitarismos comunistas e nazistas, a genocídios, a crueldades de todos os géneros. Depois veio a guerra-fria, o armamento atómico, a poluição do planeta. Os fundamentalismos, os terrorismos e toda a espécie de inseguranças assolam o equilíbrio terrestre e destroem a paz. O desenvolvimento económico tornou-se perigoso. Consumimos os hidrocarbonetos acumulados nas vísceras da terra durante centenas de milhões de anos e os produtos da sua combustão criam o efeito de estufa que poderá destruir, se não a vida, certamente a nossa civilização. E não sabemos, por agora, como remediar os danos que temos causado. Nenhum sistema político evitou este erro. Pelo contrário, o sistema comunista produziu uma poluição ainda mais grave do que a do ocidente – como se sabe do Mar Aral, do Mar Negro e do rio Danúbio. E nem sequer os países asiáticos parecem comportar-se de forma diferente. O desejo de desenvolvimento prevalece sobre toda e qualquer consideração de prudência. É o fracasso. E, por incrível que pareça, continuamos a realizar o mal como realidade palpável e não queremos assumir a culpa da sua existência! Realmente, somos uns pândegos!
P. Madureira da Silva

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