segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

GRANDEZA OCULTA

Três factos simples, da vida quotidiana, enlaçados entre si, provocaram-me para o blogue desta semana.

Primeiro facto: Estamos iniciando, na liturgia da Igreja, o “tempo comum”, que dura 34 semanas, interrompido pelo ciclo pascal. Duas terceiras partes da liturgia católica são “tempo comum”. O tempo comum é conhecido também como tempo ordinário, em que vamos meditando e assimilando sem pressas a Palavra que é Jesus.

Segundo facto: Nos dias 16 e 19 passados enterramos dois cristãos da Paróquia de São Pedro, de Évora: homens simples, normais, mas excepcionais pessoas e cristãos. Os jornais não falaram neles. Tal grandeza ficará oculta, nas suas campas, para a maioria da gente; não para Deus.

Terceiro facto: Há poucos dias recebi dum bom amigo um PPT sobre Irena Sendler, “a mãe das Crianças do Holocausto”. Esta senhora continua a ser uma perfeita desconhecida, apesar de ter salvado 2.500 crianças. O seu caso não é o de Óscar Schindler, o salvador de 1.000 judeus, imortalizado em 1993 pelo filme a “Lista de Schindler”, que ganhou 7 prémios Óscar. Poucos sabiam algo sobre esta mulher polaca, ‘descoberta’ em 1999 por alunos dum instituto de Kansas ao fazerem uma pesquisa sobre os heróis do Holocausto. Procurando a sua campa em algum cemitério, souberam que a velhota de 97 anos ainda vivia e que residia num asilo do centro de Varsóvia. Quando os alemães invadiram Polónia, em 1939, Irena trabalhava como enfermeira no Departamento de Bem-estar Social. No ano de 1942, os nazis criaram um ‘ghetto’ em Varsóvia para os judeus. Como os alemães tinham medo de uma possível epidemia de tifo, permitiram que os polacos controlassem o recinto. Foi assim que Irena, na sua qualidade de enfermeira, conseguiu esconder, tirar do ghetto e salvar 2.500 crianças… No dia 20/10/1943 foi detida pela Gestapo e brutalmente torturada. É por isso que teve de andar em cadeira de rodas. Na vida, disse ela, limitou-se a pôr em prática o conselho de seu pai: “Ajuda sempre o que se está a afogar; sem levar em conta a sua religião ou nacionalidade. Ajudar cada dia alguém tem que ser uma necessidade que saia do coração.” Irena não se considera uma heroína; quando foi interrogada sobre o assunto, disse: “Poderia ter feito mais, e este pesar continuará sempre comigo até ao dia em que eu morrer”.

Destes factos grandes, mas ocultos, realizados na vida ordinária, por pessoas comuns, queria tirar uma lição para todos nós, chamados à grandeza da santidade e da perfeição no tempo comum, na vida ordinária, no exercício das nossas tarefas quotidianas, grandes ou pequenas, ocultas ou públicas.

“A grandeza não consiste tanto em fazer coisas grandes, como em fazer bem as pequenas.” O nosso mal é crer que apenas as grandes coisas são importantes, sendo assim que é nos pequenos detalhes da vida que o carácter forte se forja e se manifesta. Santo Agostinho dizia: Quod minimum est, minimum est; sed esse fidelis in mínimo, maximum est . [“O que é pequeno, é pequeno; mas, ser fiel no pequeno, é o mais grande”].

Esta é grandeza que está reservada para a maior parte de nós: fazer de forma grande as coisas pequenas, realizar tudo com muito amor, em cumprimento da vontade de Deus; viver com alegria e dedicação todos os acontecimentos…

“O bem não faz barulho.” Saibamo-lo. E nunca esqueçamos que, embora o mal tenha quase toda a publicidade, o bem do mundo é infinitamente superior ao mal.
P. Vicente Nieto

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