sexta-feira, 6 de março de 2009

COMENTÁRIO AO II DOMINGO DA QUARESMA

PER VERBUM AD DEUM

Neste segundo domingo de quaresma a Liturgia oferece-nos uma nova catequese baptismal. A primeira leitura, junto com a segunda, leva-nos a contemplar em Abraão o rosto do Pai que entrega o seu próprio Filho por amor, e na luz que irradia do rosto de Jesus na Transfiguração contemplamos o êxito do seu caminho de entrega amorosa até a morte.

Abraão se mostra disposto a oferecer e sacrificar o seu filho amado, Isaac, o filho da promessa, no qual tinha colocado todo o seu amor e toda a sua esperança dum futuro de benção universal. A narração, que é apresentada como uma “prova” da sua fé, e que visa também recriminar e rejeitar o crime horrendo de sacrificar os filhos primogénitos, prática comum no contexto cultural e religioso do antigo Israel, deixa adivinhar a “paixão” do pai, o seu sofrimento, a par da sua serenidade e firmeza de alma levado da sua fé e adesão ao Deus da promessa e que orienta a sua vida. Purifica a sua paternidade recebendo-a mais uma vez como dom, como graça.

Com S. Paulo vemos nesta conduta de Abraão a figura do Pai de Jesus Cristo que “não poupou o seu próprio Filho mas O entregou por todos nós” e pela nossa salvação. Ao mesmo tempo, em Isaac, encontramos a figura do próprio Jesus, o Filho amado, que decide, levado do seu amor até o extremo pelos homens, seus irmãos, entregar-se por eles até a morte.

O Evangelho apresenta a Transfiguração de Jesus. A figura humana de Jesus aparece “trans-figurada” antecipação da glória da sua ressurreição, fruto e consequência da sua paixão pelos homens. O monte em que acontece, o branco resplandecente dos seus vestidos, a nuvem que o envolve, a luz que ressoa, tudo mostra a presença da glória de Deus Nele, a sua identidade e condição de Filho de Deus. Nele se cumpre a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias). Todo o Antigo Testamento conversa com Jesus, acolhe e aceita o seu plano de salvação, do Servo humilde, amoroso, misericordioso, que põe a sua vida em favor dos homens, renunciando assim aos seus caminhos de destruição, de zelo violento, de triunfo. O que lhe acontecerá, a paixão e a morte, anunciadas pouco antes, que escandaliza aos discípulos, em particular a Pedro, imbuídos da mentalidade judia dum Messias triunfante, se confirma aqui como o projecto do Pai e do próprio Jesus para outorgar aos homens todos a condição de filhos.

Assim Jesus é apresentado como o testemunho verdadeiro, autêntico, aquele que deve ser escutado, seguido, ainda que não se compreenda o seu caminho, que é caminho de renúncia de si, de tomar a cruz, de negar-se a si mesmo.

Ao recordar na quaresma as nossas culpas e pecados confessamos com S. Paulo a nossa confiança na misericórdia e amor do Pai que “não poupou o seu próprio Filho”. E esta nossa confiança, é agradecimento e amor ao próprio Jesus, que morreu, ressuscitou e intercede por nós, como garantia plena da nossa vida em plenitude, da nossa glória e transfiguração. Por isso cantamos com o Salmo: “Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor”.

P. Luis Rubio

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