quinta-feira, 12 de março de 2009

FUTILIDADES E FALTA DE TEMPO

Por falta de método ou de critério de prioridades, muitas pessoas dizem que não têm tempo para nada. Ficam desajeitadamente perturbadas só em pensar que têm muito que fazer e que o tempo não lhes chega para nada. Por estarem convencidas disso, vivem acabrunhadas, zangadas, dando a impressão que a vida tudo lhes deve e nunca mais lhes paga. Mas aqui que ninguém nos ouve, os verdadeiros motivos não são o muito a fazer nem as correspondentes responsabilidades. São, antes, as imensas futilidades com que preenchem a vida. Essas futilidades são tudo (e só) o que fazem, depois de terem de dar algum colorido aos rotineiros afazeres domésticos e profissionais. Tempo para tudo! E tempo para nada. «Cada um é para o que nasce! Nós não temos vagar para essas coisas! Isso é para as irmãzinhas, que não têm mais nada que fazer» – diziam aquelas desocupadas senhoras quando foram convidadas a «gastar» vinte minutos do seu tempo para ir rezar o terço no mês de Maio, em vez de estarem ali na mais genuína tagarelice.

Pudera! Então não era muito mais importante pôr em dia as últimas novidades que corriam pela aldeia e cochichar sobre os apaixonados desenvolvimentos das telenovelas? [Já sabemos que a preguiça tem respostas cómodas para tudo e prefere procurar desculpas e justificações em qualquer tipo de conveniências e nunca nas razões minimamente aceitáveis. Já agora e antes que me esqueça: quando as irmãzinhas, meia hora depois, regressavam, ainda aquelas pessoas sem vagar continuavam a cochichar sobre os mesmos escândalos da freguesia e sobre os enredos das telenovelas!]. A propósito: não será estranho que as pessoas das futilidades não tenham tempo para nada de útil, mas sejam possuidoras de muito tempo para escancararem o seu elevado carácter de má língua? Os Media fornecem-lhes diariamente uma dose de escândalos – que é a melhor coisa que há para alimentar conversas. E essas pessoas animam-se com tais assuntos, tomam partido, acham que não há direito... mas a indignação que daí resulta não leva a nenhuma obrigação de compromisso. E eu, que estou noutra onda, interrogo-me: Onde param os valores da generosidade, da verdade, da justiça e do sacrifício em favor de quem mais precisa... e que essas pessoas poderiam pôr em prática? Onde param tantos ensinamentos ministrados no ambiente familiar ou em catequeses e liturgias, que ficaram enraizados nas consciências dessas pessoas?

Mas voltemos à questão da falta de tempo e apliquemo-la à situação dos «católicos não praticantes». Os homens (muito mais que as mulheres) são quem menos tempo tem para ir à igreja. Anestesiados num mundo construído sobre futebol, política e tecnologias, ou simplesmente porque têm uns biscates a fazer, padecem de insensibilidade perante a transcendência e o mistério. Ainda há dias, na conversa com um senhor dos seus cinquenta anos, ouvi esta sentença: «vou à igreja, sim senhor, mas é só quando tenho tempo» – Fui investigar. Nos últimos quarenta anos, exceptuando algumas ocasiões de circunstâncias fúnebres em que ficava cá fora, só teve tempo para o casamento e para o baptismo dos filhos! Que pena! Falta de tempo, quando há tempo para tudo! É verdade que, segundo as estatísticas, só um em cada quinze portugueses (homens e mulheres) procura, de facto, ser cristão no ambiente religioso e celebrativo das Igrejas. Apesar de “cada um lá ter a sua fé”, bem poucos são os que procuram em Deus o auxílio que precisam. Por pressão ideológica – em vez da interioridade –, os caminhos da felicidade terrena são, por tais pessoas, preferentemente calcorreados na mira de parâmetros nada religiosos. Entretanto... estou convencido que Deus não só quer salvar os laicos arrogantes que teimam em não ter tempo para acreditar, como os cristãos sem tempo que têm medo de mostrar publicamente que têm todo o tempo do mundo... até para serem religiosos!

P. Madureira da Silva

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