quinta-feira, 21 de maio de 2009

DE INSUCESSO EM INSUCESSO...

Quando terminou, a multidão, pigarreando abundantemente, desdobrou-se em aplausos. Os cinquenta minutos intensos de comunicação tiveram palmas que não enganavam. O discurso foi um sucesso. Cá fora dei os parabéns ao orador. Espantei-me, de imediato, com a sua reacção. “Olha, rapaz, só 10% das palmas foram para mim; o restante foi só a descarga da tensão provocada pela eternidade em que se transformaram os cinquenta minutos que a plateia aguentou com alguma atenção e muito esforço”. Atónito e sem pestanejar, não quis acreditar no que acabava de ouvir. Não podia ser verdade! 90% das palmas não eram de parabéns, mas tão-só de descarga da tensão... Não, podia ser! – Mas era mesmo o que ele sentia. De imediato disse cá para os meus botões que nunca tinha aprendido tanta coisa de uma vez só, e que ninguém, em tempo algum, me tinha proporcionado tamanha lição de humildade. E, a ser verdadeiro este simbolismo, concluí que nada há de mais louco e terrível do que fazermos depender o nosso valor dos sucessos, das palmas e dos aplausos que, de fora, recebemos. A medida do nosso autêntico valor tem de passar por outros parâmetros. Precisamente os parâmetros do limite e do revés, das contrariedades e dos desgastes, da incompreensão e da crítica injusta. Se só fizéssemos o que tem boa aceitação nas apreciações, opiniões e críticas dos outros, então concluiríamos que o melhor era não fazermos nada. Eles são terríveis!

Porque somos gente de acção, as razões para agir temos de as encontrar dentro de nós, não fora de nós. Será essa uma ingrata missão… mas a exacta medida de nós próprios – do que somos e valemos – pressupõe que temos consciência de que o que fazemos é precário e que o merecimento está precisamente em fazê-lo sabendo que é precário, que o resultado pode ser um insucesso, que muitos comentadores e críticos o poderão tratar injustamente e que, por isso, até poderemos ser o alvo preferencial da chacota e das conversas maldosas. É certo que as razões num «estado de direito» haviam de ser outras! Mas que havemos de fazer? As razões num «estado de realidade» são mesmo estas, quer se queira, quer não! A este propósito, – perdoem-me o inciso – gostaria de lembrar que a grande força dos gregos antigos foi o esforço pela perfeição, não o sucesso. Que a grande força do povo bíblico foi o empenhamento em realizar a vontade de Deus, não o sucesso. Vou repetir: para agir, nenhum de nós deverá fazer depender a sua acção da opinião nem dos aplausos dos outros. Pelo contrário, o caminho salutar e que mais resultados dá é, de insucesso em insucesso, ser-se persistente, ter muita paciência e nunca desanimar. O segredo encontra-se nestas atitudes: persistência, paciência, ânimo.

Uma coisa é o ideal e outra, bem diferente, é a realidade da vida. Na vida, somos acossados pela preguiça, amanteigados pela apatia e atraídos pelo desinteresse. É mais fácil assim! Achamos por mal empregue o esforço quando o sucesso nos escapa. No nosso narcisismo, continuamos a pensar que somos merecedores de 100% de consideração e de aplausos. Porque quase ninguém reconhece o nosso esforço, desanimamos e, muito frequentemente, perdemos a paciência, como se já não houvesse qualquer tipo de energia em nós. E, na mesma proporção em que perdemos a paciência, disparamos flechas em todas as direcções, zangados, agrestes e tristes. Sobretudo tristes. É tão fácil perder as estribeiras, bater com a porta! Difícil é suportar a primeira, a segunda, a terceira derrota e, de todas as vezes, recomeçar. De insucesso em insucesso é que se chega ao topo! E para chegar ao topo, nada como a paciência! Esta é a capacidade de controlar as energias más que há em nós, orientando-as para não batermos com a porta! E também é o nome que se dá à coragem quando é necessário recomeçar. Infelizmente – não sei bem porquê – nem sempre encontramos motivações para sermos mais enérgicos, mais audazes e mais pacientes. Estaremos a envelhecer assim tão rapidamente e a perder objectivos e ideais?

P. Madureira da Silva

1 comentário:

  1. Penso, muitas vezes, por que razão não havemos de gostar mais de rir, de brincar, de ser felizes, de VIVER?!...
    Sei que há forças externas que, por vezes, se conseguem impor às forças internas...
    Mas também sei, que quando nos quisermos agarrar às «armas» necessárias - confiança, segurança, vontade - e se quisermos confiar no tempo, nos tornaremos mais tolerantes, mais disponíveis, mais íntegros, mais verdadeiros!Ah... e muito mais felizes!
    Temos adjectivos tão bonitos!!!

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