segunda-feira, 8 de junho de 2009

BORDÉIS TERAPÊUTICOS NAS ESCOLAS

O colunista João Pereira Coutinho sugere-me o cabeçalho. Escrevia ele no “Correio da manhã”, de 29/05: A proposta aprovada pelos socialistas não prevê distribuir preservativos como quem atira milho aos pombos. Tudo depende das necessidades dos pombos: se, por hipótese, o Joãozinho aparece no ‘gabinete de apoio’ e declara, em doloroso pranto, que ele e a Teresinha já não aguentam mais os calores, é função do ‘técnico’ entregar-lhe a borracha e conceder-lhe a sua bênção… Em nome duma escola verdadeiramente igualitária, o legislador devia acautelar situações de exclusão e carência, disponibilizando um bordel terapêutico em pleno recinto escolar. De nada servem as teorias se os alunos não têm material para as práticas.

Os socialistas ibéricos e seus aliados, na corrente de despropósitos de converter dramas em direitos, calcando aos pés o mais elementar senso moral, jogam a serem, nos seus parlamentos e com as suas leis, como deuses, criadores do bem e do mal, sob a capa da modernidade e do progresso.

De que estou a falar? Da aprovação consumada, ou em curso, das leis do matrimónio homossexual, da distribuição de preservativos (e de abortivos) nas escolas, do aborto livre (em Espanha também para adolescentes de 16-17 anos sem consentimento dos pais), da educação sexual ou para a cidadania nas escolas (segundo o critério dos governantes, não dos pais das crianças e dos adolescente), etc.

Sei que há muita gente que pensa que aprovando estas leis permissivas se resolve o problema da gravidez prematura, dos filhos nascidos de adolescentes, das infecções com VIH, das doenças de transmissão sexual, etc. Alguém, recentemente, até escreveu que se tais leis não são aprovadas é pela pusilanimidade do PS frente à pressão do lobby católico, que conseguiu juntar, pouco tempo atrás, multidões atraídas mais por Nossa Senhora de Fátima que por Cristo Rei (sic).

O assunto de colocar “bordeis terapêuticos” nas escolas é uma simpática brincadeira, para ti, leitor, e para mim, mas é a consequência lógica e ridícula de determinadas premissas que estão postas pelos nossos governantes, cujas consequências não se querem reconhecer. Novamente calha bem citar o profeta Oseias: Os que semeiam ventos, colherão tempestades (8, 7).

Quem destrói a moral sexual da continência, do autocontrolo, do matrimónio heterossexual monogâmico, e semeia ideias de dar ao corpo o que pede, segundo os instintos naturais, de que a fidelidade é a infelicidade, está semeando ventos, ou melhor, furacões. Estes, uma vez desencadeados, são difíceis ou quase impossíveis de travar com preservativos, anticonceptivos, abortivos, ‘interrupções da gravidez’ não desejada, vacinas, leis e cadeias, educação sexual obrigatória nas escolas, etc., etc., etc. Antes do que social ou higiénico, o problema é antropológico e moral. Que homem, que mulher queremos formar? Que sociedade queremos construir? Eis a questão.

Aplaudo as ideias – agudas, brilhantes, oportunas e politicamente incorrectas - do Professor João César das Neves, no seu artigo “Deseducação sexual”, publicado no DN de 25 de Maio 2009: “As gerações futuras vão rir com a tolice dos nossos políticos que se encarniçam a regular o baixo-ventre”. Amen.

Transcrevo, a modo de exemplo paradigmático, o que acabo de ler na revista Sal terrae. Refere-se ao deslizamento da avaliação moral do aborto: desde a moral axiológica tradicional até à moral hodierna do consenso, sem valores, dita democrática e progressista, que inspira os nossos governantes. Onde está escrito “aborto”, coloque-se “preservativo”, “matrimónio homossexual”,” eutanásia”, etc., que o processo de corrimento avaliativo é o mesmo.
· Num primeiro momento, a sociedade considerava que o aborto era um crime e como tal, devia ser penalizado. O Estado deve defender sempre os direitos dos mais fracos, neste caso os direitos do não nato, que não se pode defender a si mesmo.
· Segundo momento: O aborto é reprovável, mas não tem que ser penalizado, para evitar a clandestinidade e o risco da saúde da mãe, em alguns casos.
· Terceiro momento: O aborto deve ser permitido em alguns supostos extraordinários que o justificam moralmente. Se estabelece um prazo máximo de gravidez para estes supostos.
· Quarto passo: Cada vez se reconhecem mais “supostos” e os períodos de tempo alargam-se. O chamado “quarto suposto” é praticamente a legalização total do aborto.
· Quinto: Passa-se a reconhecer legar e medicamente o aborto como um direito da mãe, em contraposição ao direito do não nato.
· Fim do processo: O aborto não tem nenhuma conotação negativa e deve ser livre e gratuito. Não aceitar o aborto assim entendido, atenta gravemente contra a dignidade e os direitos da mulher.

Vejam onde temos chegado: à anestesia ou à perda da consciência moral.

Só ousaria sugerir aos que rumamos por outras sendas, que defendamos as nossas ideias com energia, mas com boas maneiras (fortiter in re, suaviter in modo), sem perder a paz e sem berros; com muita caridade, seguindo a indicação de São Paulo: professar a verdade com amor (Ef 4, 15). A verdade termina por se impor pela própria força da verdade.

P. Vicente Nieto

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