Facilmente podemos ser assassinos! Facilmente podemos tirar a vida a um homem matando-lhe a alma, a dignidade, o valor, sem nunca o beliscar na mais pequena fímbria do seu corpo. Não é uma morte com armas brancas ou com armas de guerra; é uma morte provocada pelas armas das ideologias, da lavagem de cérebro, das dosagens de drogas – que matam a vida intelectiva; é uma morte provocada pelas armas da murmuração, da calúnia e da difamação – que matam a alma, a vida de relação, os valores e ideais, o prestígio e a dignidade. Por razões óbvias, vou referir-me somente às armas da calúnia e da difamação, por serem as mais usuais entre pessoas sem escrúpulos. Antes, porém, para aquilatarmos dos efeitos nefastos que as calúnias e as difamações produzem, tentemos, num exercício de imaginação, pedir a uma criança irrequieta que, em dia de vento, atire da janela do quarto andar, uma a uma, todas as pétalas do arranjo de flores que está sobre a mesa. Depois de todas lançadas, peçamos-lhe que vá à rua apanhá-las, também uma a uma, para que seja refeito o arranjo floral. – Impossível, dirá a criança! Impossível será, também, refazer o nome e a dignidade de alguém que, vítima da boca maledicente do mundo, foi alvo de calúnias e difamações.
A calúnia é a afirmação mentirosa, falsa, de algo que se diz contra alguém, com o intuito firme de prejudicar a sua honra. A difamação é a afirmação injusta, tornada pública, que ataca a boa reputação do próximo, mesmo que possa até ser verdadeira. Tanto uma como outra matam de igual modo a dignidade. A primeira, por mentirosa; a segunda, por inoportuna. Sendo a honra um bem espiritual de inegável importância para o indivíduo, para a família e para a comunidade, o atentar contra ela é algo muito grave. Atenta-se contra a honra não só quando se calunia e difama com intenção má e consciente, mas também quando se é imprudente. E também quando se usa um malicioso silêncio! A sua gravidade mede-se pelo escândalo que provoca, pelo prejuízo que causa, pelo estorvo posto à actividade profissional e pelas possíveis perdas materiais, como sejam o posto de trabalho ou de negócio. A magnitude do prejuízo não depende unicamente das afirmações desonrosas, mas muito especialmente das circunstâncias e da condição socioprofissional do difamado, do difamador e de quem o escuta. Todos conhecemos vários casos públicos, do foro judicial, do foro político, ou do foro sentimental, relatados nos meios de comunicação social, em que se «mataram» muitas pessoas na sua dignidade. Trata-se de gente morta no mais profundo de si, com recuperação ainda possível, mas muito lenta; e nunca mais serão como antes.
P. Madureira da Silva
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