segunda-feira, 29 de junho de 2009

Olhando para os Jovens

COM REALISMO E OPTIMISMO

A juventude continua a ser objecto privilegiado do debate público, por variados e justos motivos. No debate, ouvem-se as vozes mais contrastantes: a juventude está óptima; a juventude é uma desgraça; a juventude quer mais liberdade; a juventude é apenas vítima das novas tecnologias, duma cultura niilista e dos actuais sistemas políticos e económicos.

E se a atenção recai sobre os aspectos mais restrito de “religião e juventude”, as divergências de opinião são igualmente muitas, as quais vão desde optimismos exagerados a excessivos pessimismos: os jovens afastaram-se da Igreja; os jovens mostram-se inquietos na vivência duma liberdade radical, ou na busca duma dimensão religiosa que lhes dê um novo sentido à vida.

Não podemos deixar de reconhecer parcelas de verdade em toda esta diversidade de posições. Importa, no entanto, não nos deixarmos enredar em armadilhas extremistas, de natureza ideológica ou ditadas por interesses inconfessados, que só podem conduzir a pessimismos estéreis. Só um olhar límpido e sereno permitirá encarar o fenómeno da juventude com realismo, deixando o caminho aberto a um optimismo construtivo.

A juventude é, antes de mais, um período etário. Os jovens de cada geração têm todos algo de comum: todos querem legitimamente afirmar-se e isso leva-os a contestar a geração ou gerações anteriores. Querem transformar o mundo, como se tudo começasse com o seu tempo. Mas não podemos negar-lhes muitas vezes lucidez de análise e generosidade de entrega.

Cada nova geração tem muito a ver com a geração precedente – a geração dos pais - : se a actuação e o testemunho desta foram positivos – também no campo religioso –, os jovens que surgem no tablado da vida encontram-se melhor preparados para enfrentarem o futuro; se, foram negativos, a herança que lhes transmite é a incerteza, a angústia, a desorientação.

Sem pretender esquecer realidades e fenómenos preocupantes, como a droga, a delinquência, o divórcio, o desemprego, as atitudes desregradas perante o sexo e a família, é necessário não perder de vista o lado luminoso, isto é, os factos reais, positivos e carregados de esperança.

Há certamente um dado que não podemos iludir: as gerações deste período histórico receberam uma difícil herança. Coube-lhes navegar num mar particularmente revolto, devido às profundas mutações em curso, mutações culturais, tecnológicas, políticas e de sistemas de valores, e também dos erros e pecados daqueles que as antecederam.

Quanto aos testemunhos positivos irrecusáveis, capazes de gerar em nós sentimentos de esperança, permitir-me-ei referir um ou outro, de que tenho conhecimento directo e personalizado. Conheci de perto, nos últimos anos, jovens católicos que souberam aliar a fé e a vida; tiraram o seu curso; militaram em movimentos apostólicos ou nas paróquias; constituíram família Hoje são profissionais dignos; mantêm-se católicos conscientes e praticantes. São elementos activos e prestigiados da sociedade.

Recordo uma jovem enfermeira que se ofereceu para trabalhar com os leprosos, em Moçambique. Ou um jovem casal, ambos licenciados, e com filhos, que deixou o emprego e foi para o Brasil, para uma cidade pobre do interior, integrado num projecto de evangelização. Um outro jovem de vinte anos converteu-se à prática cristã, durante um encontro dos “Convívios Fraternos”; hoje é sacerdote diocesano. Uma jovem escuteira optou pela vida religiosa contemplativa, tendo entrado, há dias, no convento das Irmãs Concepcionistas em Campo Maior. Todos jovens desta geração.

Os casos poderiam multiplicar-se. São do domínio público.

É este o lado luminoso do mundo juvenil, o seu aspecto positivo, que demonstra bem as potencialidades da actual geração. Há o outro, o lado sombrio e triste. Não o podemos negar, e, muito menos, abandonar. Para este urge encontrar soluções lúcidas e corajosas.

Numa palavra, olhemos para a juventude actual com um olhar realista. E sobretudo com uma sadia atitude de esperança, alicerçada em Deus que conduz cada nova geração com amor, ao longo da história.

+ Maurílio de Gouveia
Arcebispo Emérito de Évora

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